quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
É UM DIA NOVO
Ele acordou às dez da manhã, ligou o aparelho e pôs pra tocar o Arnaldo Baptista.
Foi até a cozinha preparou o café, passou pelo pequeno corredor em direção à sala.
Sentia-se maior e mais maduro. Estufava o peito, engolia a
poeira do apartamento e cuspia sua nova percepção de mundo. Seria mais um Loki?
Arrastou a cadeira e sentou-se. Logo voltou o olhar para a
janela, cansou de tantas especulações. Nem bem se levantara da cadeira, a tia
entrou toda animada pela porta.
-Parabéns! - Disse a
tia.
-Não vai falar nada?
Continuou ela.
-Ah sim, obrigado! Ele respondeu meio desanimado.
-Quantos anos mesmo?
-Vinte...
-Adivinha o que eu trouxe pra você?
-Uma camisa?
-Não. Mas acho que você vai gostar...
A tia entregou um embrulho nas mãos dele, que parecia
surpreso.
-Um livro do Leminski! Gritou ele.
-É sim, você gosta desses loucos marginais, tal o bukowski né? Perguntou a tia.
-Gosto sim! Muito obrigado! Falou ele cheio de sorrisos e olhos infantis como de quem ganha a primeira bicicleta.
Nem bem pegou o livro, sentou-se no chão e passou a
folheá-lo.
O tempo corria em minutos e ele fitava as primeiras páginas soltando risos contínuos com as estrofes.
A tia sentou na cadeira e ficou calada por um tempo observando
a cena. Foi quando viu mais um riso e então falou baixinho:
-É um dia novo... Vinte anos ranzinzas por fora, Mas não
passa de uma criança louca por dentro.
Talbert Igor
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
CASO PARA ELEFANTE RESOLVER
Seus sinos lúdicos perfuraram tímpanos de rostos belos
Apontando os fragmentos de leões idosos
Entre negros fios desce a moral dos duelos
Por vinho e punhal sangra a carne dos ossos.
Ó coágulos de minha cabeça!
Suas regras pedem liberdade desses corredores,
Assim dos ventos transcendem todas as dores
Das espadas de Roma pedem que esqueças.
Tríade de patas em prado do sul
Movimentam águas que transbordam do atlântico
Ó peso das lembranças de bramidos dos cânticos
Dum efervescente elefante de marfim azulado.
Tromba em disparo tal revólver alienado
Acerta líquido em músculos de cascas
É a casa de sombras
em agudos de facas
Dum efervescente elefante de marfim azulado.
Talbert Igor
domingo, 16 de dezembro de 2012
DOCUMENTÁRIO
(IMAGEM ISADORA POULAIN)
‘’O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente. ’’
‘’O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente. ’’
(Mario Quintana)
Frase para agradar certa pessoa não é simples assim.
Palavras atrofiam,
Repetem-se por dias solúveis...
Verbos consumidos por substâncias.
O desejo linguístico floresce em cheiro de tinta fresca.
No céu, nuvens e estrelas brigam por um espaço em repouso.
Livros se calam e olhos falam quase nada do que sabem.
Rancores afetam todas as Bípedes cabeças
Mas os vilões são sempre braços vizinhos.
Certa pessoa não se importa com tal frase
Mas ainda permanece decompondo-se no ambiente
Mostra o efeito das sociedades decadentes
Fragmentos de matéria pensativa.
O sentido de criar documentário de um passado glorioso
Para um presente
decadente é a moda das moedas.
Talbert Igor
sábado, 15 de dezembro de 2012
O MAL DAS COUSAS SADLAMO
O mal da cabeça,
É sempre um ego levado a sério.
Passos de curvas e esquinas
Sangue que coagula violento
Põe novos ritmos para seus passos.
Santas e novas toxinas
Tudo reflete em retina do velho maestro.
Os males de todos os pés são as topadas desatentas,
Desatenta pupila que não percebe das riquezas em buracos calçados.
Talbert Igor/ Thalles Nathan 16-12-2012
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
BRUNNUSDOVAR
(Imagem Isadora Poulain)
Depois da voz trovoada de Brunnusdovar,
O céu transbordou compaixões.
Cuspiam-se pragas e nasciam lealdades,
Os filhos da areia
observavam calados.
Revoltos panos de chão
Não absorvem, apenas consomem o que é infinito.
Flores de pecados de um povo líquido,
Choram os filhos da perdição.
Avançou a ordem do podar de ramos.
Cérebros codificaram a criação do discurso
Arranca a oliveira que plantamos,
Em clara noite, Brunnusdovar traça mais um curso.
A chuva haverá de chegar!
Cérebros codificaram a criação do discurso
Arranca a oliveira que plantamos,
Em clara noite, Brunnusdovar traça mais um curso.
A chuva haverá de chegar!
E as nuvens espalharam-se,
Trancando seu ódio, demasia de rubras feridas,
Amaldiçoa o rancoroso Brunnusdovar.
Talbert Igor/ Thalles Nathan – 05/12/12
domingo, 9 de dezembro de 2012
LÉTRICO
Quando a morte nos vier de encontro,
Descansaremos aos pés e sombras de um licurizeiro.
Nós, os loucos, que andamos sem rumo por cidades inteiras.
Percorremos estradas descalças provando a liberdade dos
ventos.
Nós, que ouvimos o tirano cuspir e maldizer que o jovem é um idoso com
expectativa de vida.
Sim companheiro, somos nós.
Pondera seguir estações e paradas dos dias impostos?
Esses discursos desfazem nossa percepção de existência.
Não o siga em domingos silenciosos!
Nele estão as mazelas que todos os poetas sofreram.
Tu caro amigo, vive a vida de vagabundo hiperativo.
A vida que os pobres lentos tentam ter.
Tu és sombra inquieta,
Rabiscos em linhas de paredes mofadas.
Mais um neologismo de qualquer olho conhecido.
Talbert Igor
sábado, 8 de dezembro de 2012
DEZEMBRO
Acordo, e a força desse mês vem me receber.
Sopra-se sol e o aroma dessas plantas regionais.
Sopra-se sol e o aroma dessas plantas regionais.
Dezembro me alcança no caminho da escola e me atinge em uma
mesa de falsidades natalinas.
- Ah, como eu o odeio!
Chegamos a fingir um ano inteiro em uma única noite, em uma
mesa de sorrisos e gestos.
Sentimentos fabricados somente para aqueles instantes e depois desaparecem tal qual esse espírito que dizem existir.
Sentimentos fabricados somente para aqueles instantes e depois desaparecem tal qual esse espírito que dizem existir.
- Oh bom velhinho da economia capitalista,
Traga alegria e conforto a todos os filhos que papai pedem a Noel.
Traga alegria e conforto a todos os filhos que papai pedem a Noel.
É o mês das despedidas!
É o mês dos tolos, dos aniversários que não se comemoram e
da estiagem final.
Seremos pequenos pontos da inútil resistência contra costumes de toda uma vida.
-Ah, como eu o adoro Dezembro.
ORAÇÃO MATRIARCA
Lembranças eram palavras que nos atingiam com mais facilidade
Quando estávamos reunidos e dizíamos boa noite.
A cada
indiferença de gestos que possuímos
E quando
conjugamos verbos ofensivos,
Chegamos à
vizinha prisão.
O relógio
segue em atrito e conta o tempo que ainda resta.
Ó minha
senhora de tantas forças e coragem!
Queria
permitir ser.
Poderia
abrandar tanta desgraça que nos cerca,
Dentre um e
outro desentendimento.
Sim,
faríamos um juramento!
Lançando
aos ventos e para o restante da casa
E nossas
vidas seguiriam simples e sinceros rumos.
Perderia o
medo e os rancores de passos carentes
E tu
poderias repetir alegremente palavras de afeto materno.
Talbert Igor
Talbert Igor
domingo, 2 de dezembro de 2012
BAHIA DE TODOS OS PRANTOS
Enquanto a célula morre,
Há sempre a vontade de ser nômade nessas curvas e ladeiras
Onde prédios dão as costas aos barracos condenados.
Desde cedo, nenhum traçado patriota quis ser esquecido em terras estrangeiras,
Nem tampouco quisemos sofrer ironias dos opostos. Ironias da vida.
Qualquer sombra possui fantasmas em troncos, raízes e galhos que nascem de favelas e secam em muros de condomínios.
A morte alimenta ao sol e a terra é somente mais um desatento olho.
Com o descaso das mãos governantes,
O metal enferrujado é a resposta dos esquecidos... Corpos provam sua lâmina.
As águas correm dos esgotos e o povo ainda se encanta com globos, retângulos e sons de motores.
Seus governantes possuem os pés e descansam em ''xanadu''.
Enquanto a célula morre,
O povo curte mais um carnaval.
Talbert Igor
sábado, 1 de dezembro de 2012
VALE DOS RIOS 0914
No ônibus entravam sujeitos iguais a outros tantos sujeitos das passadas diárias.
No meio desses tantos, subiu aos degraus do ônibus um homenzinho. Este seguiu e sentou-se em um dos últimos bancos.
O homenzinho olhava pela janela os nomes dos edifícios e ria com as estranhezas e elevações.
Seguiram viagem e o ônibus fez mais uma parada. Duas mulheres subiram, foram andando pelo corredor e sentaram logo atrás do homenzinho, nos últimos dois bancos que restavam desocupados.
Rodas começaram a percorrer asfalto quente e as mulheres puseram-se a conversar.
Parando de olhar pela janela e retirando da maleta um caderno e uma caneta, o homenzinho parecia fazer anotações.
O fluxo do trânsito era intenso e o ônibus passou a andar lento. O homenzinho continuava a escrever, agora com muito mais calma e precisão.
As mulheres animaram-se e passaram a aumentar o tom de voz, riam e riam cada vez mais alto de modo que sempre alguma cabeça olhava feio e virava-se para traz.
O ônibus continuava lento, vez ou outra aumentava a velocidade. O homenzinho parou de fazer suas anotações e passou a observar a conversa das mulheres.
Elas falavam de fofocas, emprego, maridos, filhos e escola.
E revirando a bolsa, falou uma das mulheres:
- A escola faz muito bem ao meu pequeno!
Respondeu a outra mulher:
-Lembro-me de quando era pequena. Tinha um livro ilustrado que cada dia eu mudava a história. Não sabia ler direito, mas eu gostava sempre de folheá-lo. Seu cheiro era de massinha de modelar... Parece que foi ontem que senti seu cheiro passando por mim enquanto dormia.
A outra mulher olhou diferente para a amiga e disse:
-Que maluquice essa sua! hahahaha!! Cheiro de massinha de modelar? hahahaha.
''Mal sabia ela que falava poesia.''- Escreveu o homenzinho em seu caderno.
O homenzinho começou a rir e as mulheres, percebendo o riso, olharam feio para ele.
-Por que não cuida da sua vida seu enxerido? - Falou uma das mulheres.
O homenzinho parou de rir e voltou seu olhar para a janela do ônibus.
Uma das mulheres, observando as anotações dele no caderno, disse:
-Esqueça de nós e volte ao seu papel!
-Desculpe-me se pareci desagradável... Sou um poeta preguiçoso. - Respondeu o homenzinho.
A outra reforçou o discurso:
-Por que escreve tantas asneiras?
Respondeu o homenzinho:
-Desculpe, não sei o porquê, apenas escrevo.
Talbert Igor
domingo, 18 de novembro de 2012
UM PAPO CALMO
O homem parece não se importar mais com a calvície dos dias,
Entrega-se ao tempo como quem se entrega ao descanso da cama.
O homem mapeou suas pegadas
Pegou suas palhas,
Juntou angústia em sacos
Sentiu os chiados do corpo por ver laranjeiras murcharem.
Seu tempo desaparece lentamente em estradas de barro.
Senta em nuvens pesadas, para e olha o que é vago.
Sente o clima psicodélico do velho Lula.
Retira pedras da cabeça e cria seu muro...
Lembra-se da infância, linhagem e palavras patriarcas:
-A nós todas as xícaras de café que nos são de direito
beber!
Ao menos deveria ser assim...
Talbert Igor
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
ENTRE O PONTAL E VERA CRUZ
Em sua estrada me lanço e chego nessa terra que tanto inspira.
Formigas trabalham e seguem nessas idas e vindas, besouros sobrevoam nossas cabeças.
Do lugar em que espero, procuro boatos novos, aspiro o perfume dos ventos
noturnos.
Sinto o que nunca tive e recorro ao imaginário.
Nossos tempos já são outros...
Chego aos casebres semeando desgraças e seguindo a história que se
desenvolvera.
Procuro à harmoniosa partitura que dança por entre o Pontal e que dizem se
espalhar por todo resto.
As mulheres cheiram ao mistério e lançam seus feitiços para olhos
alheios.
Invejo aos velhos que curam seus corações solitários no silêncio dessas
árvores.
Viro luz na lua e sigo à cancela Vera Cruz laranjeiras.
Atravesso cortando candeias adentro a velha fazenda,
Logo, logo o sol surgirá nos coqueirais.
Talbert Igor
terça-feira, 13 de novembro de 2012
FOTOS, PÃES, CABELO E BARBA
Comprar
Cigarros, pães, cervejas, canários...
Pagar a primeira prestação do sapato novo,
Fazer uma
nova carteira de trabalho,
Dar banho e
comida ao gato, tirar fotos 3x4.
Ir ao banco, ligar para Helena e confirmar as
passagens,
Pagar milho, água, café, empregada, fazer cabelo e
barba.
Ligar,
vender, comprar AH!
-Planejar
um dia de folga já foi trabalho simples...
Talbert Igor
Talbert Igor
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
FEIRA DE URUBUS
Adentro uma
quarta, final de feira.
Pás sobre a
noite,
Pés beijam
a calçada orgânica.
... Sombras descalças entre
restos de negócios.
Mãos por
sobras cuspidas e catadas,
Fingem
saber rastejando por comodismo.
O velho
recolhe percebendo movimentos,
Chora a
criança, berros atravessam o gelo noturno,
Olhos
derretem em lágrimas Thermais...
A esperança
voa em sacolas plásticas,
Respira
fumaça e alimentam-se por decomposição.
Atravessam
ruas à procura de tesouros,
Contam
paralelepípedo através de carroças.
Voar por
negras penas é vigiar-se entre velhas árvores.
Esperam um
domingo para entrar em cena...
Talbert Igor
domingo, 11 de novembro de 2012
CANECA DE CHÁ
Quando tu apareceres distribuindo belos sorrisos,
Direi que não sou o mesmo.
Aprendi a olhar o céu e ver estrelas problemáticas.
Fitei-me por vento e lembranças,
Tempestades já não me paravam... Nem chuviscos desatentos.
Quando tu apareceres caminhando pela rua
Contarei distorções em sonhos,
Medos verdadeiros e verdades duvidosas.
Chegará o dia em que verás a poeira sobre meu corpo
E a matilha cortando bairros inteiros.
Quando tu pisares no território
E eu já não tiver ao teu alcance,
Não chores nem cuspa angústia em seu peito.
Fique com histórias dos dias terceiros
... Das terças de brisas marítimas.
Talbert Igor
sábado, 27 de outubro de 2012
MÁSCARA DE CHUMBO
(Imagem Isadora Poulain)
Uma máscara foi oferecida ao inabitável coração!
Talbert Igor
Diluiu densas cores dessas nuvens voltando-se de pés passados.
Já não se tinha palavras sorridentes
Nem mesmo desvios de olhares.
Captar pétalas e sopra-las ao vento
Já foi trabalho prazeroso até para nós.
Tudo que se pede é recostar por pernas,
Descansar as ilusões e delírios.
Qualquer círculo negro é chamativo para luzes curiosas.
Ir-se embora as seis e meia já virou rotina
Assim como cenas da velha memória.
Ouvir a história já sabendo o final é sentir esse tempo chegar.
De nada adianta temer o mar,
Quando se pode devorar vento e cuspir areia.
Alguma coisa faz perturbar,
De longe sente-se angústia evaporando de retinas...
Sonhos virariam chumbo,
Como se o silêncio não fosse inquieto para um corpo paranoico.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
AÇÕES, MOVIMENTOS ABSTRATOS
Luzes, dia inédito para muitos fios de cabeças jovens.
Salas de aulas, vai-e-vem de olhos tímidos curiosos,
Portas fechadas apresentações apressadas e descontraídas.
Ah, é o início das novas eras em novos rumos...
E eu aqui acuado, idoso de alma e criança por timidez.
São os minutos que nada falam,
Permanece em paranoias e desafoga-se em substantivos abstratos.
Já ouvia o pensamento:
Nossas desgraças são nossas ações!
Para o além desse quadrado explica-se em giz e apagador.
O que resta é velejo em dias solúveis, desgastadas tonalidades.
E eu aqui acuado, idoso de alma e criança por timidez.
Talbert Igor
O que resta é velejo em dias solúveis, desgastadas tonalidades.
E eu aqui acuado, idoso de alma e criança por timidez.
Talbert Igor
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
INTERROGAÇÃO À SARASWATI ¿
Por que lanças linhas de grafites em páginas amareladas
Desviando movimentos desses círculos perdidos?
Volte como sinal desses olhos, oh saraswati!
Não aponte para os erros,
A incerteza pode ser a certeza do inesperado.
A incerteza pode ser a certeza do inesperado.
Os pequenos e valorosos sinais da vida
São percebidos na grandeza de desprezíveis rotinas.
São percebidos na grandeza de desprezíveis rotinas.
Troque as terças do penoso calendário
Enforque mais um dia de sol empoeirado...
Sugue aquilo que quase nunca se demonstra ser,
Silêncio em palavras são como cores pra se ver...
És a luz que se mostra através de singelos traçados.
Talbert Igor
Enforque mais um dia de sol empoeirado...
Sugue aquilo que quase nunca se demonstra ser,
Silêncio em palavras são como cores pra se ver...
És a luz que se mostra através de singelos traçados.
Talbert Igor
domingo, 9 de setembro de 2012
PAI E FILHO
Era uma junina manhã de sábado quando o menino partia com o pai numa motocicleta estrada adentro. Logo os buracos causaram-lhes problemas e o pai aproveitava, parando em vários trechos e retirando da sacola um cantil.
Licor para saborear...
O menino entregava o cantil ao pai que ia aos poucos se embriagando. Não por motivo de alegria, mas por vontade de esquecer sua miserável vida.
Para o infortúnio de ambos começava a chover. A estrada deslizava sua enorme vegetação e o céu cuspia pragas em forma de pingos aos aventureiros. Pararam numa casa que ao menino soava familiar. Era a casa da pequena bastarda que ouvia calada promessas paternas de um exímio devasso. O pai jurava e retirava dos bolsos frases feitas para o ludibrio perfeito. Mas de nada adiantou, a pequena logo expulsava de sua moradia, pai e filho.
O pai consumia cada vez mais e a motocicleta acompanhava o seu entusiasmo com manobras ariscadas. O filho temia e querendo fazer tudo não conseguia nada, logo gritou ao pai:
-Meu pai, o senhor não pode mais pilotar. Não deverias misturar o liquido com o sólido!
E o pai chateado respondia com voz e soluços:
-Calma que estamos chegando ao velho covão!..
Voltaram à estrada e o pai nesse momento já estava completamente embriagado. Foi quando num reflexo retardado exclamou delirante:
-Segure-se filho!
O menino apenas fechou, apertando rapidamente os olhos, e em segundos ambos chocaram-se contra um enorme barranco. A motocicleta encontrava-se no centro da estrada, o pai estirado junto às pedras de lama, o filho sangrando palavras de arrependimento com a roupa rasgada sobre a perna ensangüentada e o braço inchado. Depois de minutos, recuperado e com excessiva vontade de chegar ao destino final, o pai resolveu acalmar a tensão recorrendo ao cantil de licor. Mas quando se virou levou outro susto, vendo o filho abalado a esvaziar o seu precioso liquido garganta adentro. Logo ambos se olharam por segundos e riram da própria morte. O filho falou sorrindo:
-Maracujá. Meu sabor predileto!
Levantaram a motocicleta e continuaram o percurso sobre a chuva fria da noite, e quando os ventos permitiram-lhe falar o pai comentou ao filho:
-precisamos chegar logo, Pois o seu tio nos espera há semanas na velha fazenda.
O filho sorriu mais uma vez vendo um boteco aberto em um cruzamento da estrada. O pai parecia ter lido seus pensamentos, pois a motocicleta seguia a visão do filho que gritava aos ventos:
-Precisamos nos aquecer mais uma vez!.
Talbert Igor
sábado, 8 de setembro de 2012
O VELHO RANHETA
(Imagem Isadora Poulain)
O velho ranheta ecos da esquina
Do ébrio mandrião, do mecanismo que o subestima.
Pelo infortúnio introduz a ilusão...
O epílogo da rotina o deixa cego.
O velho ranheta o ganho,
Ganho irrisório de uma noite qualquer.
Cartas perdidas afetam o ego,
Engolem dilemas soprando tristezas.
E o que tenho velho homem
É pouco demais para oferecer...
Em mente calham tempestades, dito velho perneta.
Notórias perturbações d’alma solitária
Ataque lento, sereno.
Dito sempre velho homem ranheta.
Talbert Igor
terça-feira, 4 de setembro de 2012
AGONIA
(Imagem Isadora Poulain)
Hoje, mais um dia
E esse sentimento que não me escapa.
A mordaça que me aflige,
É um mero detalhe dentre tantos outros...
As paredes contradizem meras palavras pagãs,
São fatos e mais fatos de um contínuo fracasso.
Que caiam os dentes!
E sobre o telhado pragas do sul.
A displicência desvia-me o caminho.
Por perto, o algoz organiza a carnificina
E observa-me com um olhar cru.
Hoje à noite, descansarei na escuridão das ruas vazias;
Escutarei o latir solitário dos pobres cães
Vagarei rente a contramão.
Por fim, sugo do ar a necessária inspiração,
Devoro as palavras e calo o inquieto coração.
Talbert Igor
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
QUE BROTAS DO CAMPO AO CORREDOR
Um desconhecido desce, ruas cheiram a urina e calçadas têm fome de novos pés.
Movimentos com faces estranhas em estranhos olhares, tudo em
todos é suspeito.
Tempo desperdiçado na rotina de passadas apressadas.
Tempo desperdiçado na rotina de passadas apressadas.
Desertos em concretos carregados por becos e ladeiras.
Cruz da redenção que Brotas das curvas da cidade.
Cruz da redenção que Brotas das curvas da cidade.
Tintas atlânticas tingem campo em realidade, ventos que
sopram do corredor grandes verdades da federação tardia.
Pressa paralela ao medo, pessoas em degraus com tom de despedidas.
Ruas cheiram a urina, mais um desconhecido sobe. Segue a
fila...
Talbert Igor
AUGUSTO DOS ANJOS E DEMÔNIOS
Alma, delírios e desgraças rotineiras de um ser,
Mazela que aponta em sinas humanas.
Mazela que aponta em sinas humanas.
Pronunciar mistérios em podridão,
Cortar e evitar tão frias-sinceras palavras.
Pequenas doses de ironia que animam o contraditório aprendizado paterno,
Foi assim e sempre será.
Cortar e evitar tão frias-sinceras palavras.
Pequenas doses de ironia que animam o contraditório aprendizado paterno,
Foi assim e sempre será.
O poeta não se nega a palavras pesadas,
Tampouco esquece passadas perdendo a calma.
Tampouco esquece passadas perdendo a calma.
Augusto dos Anjos e Demônios:
Cegas aos filhos da salvação,
Cospe revelando a lepra ao povo decadente.
Cegas aos filhos da salvação,
Cospe revelando a lepra ao povo decadente.
Augusto, desgraça d’alma.
Talbert Igor
TAPETE DE OXALÁ
Vento febril dum entardecer nublado, buscas perdidas...
Preciosos tesouros que com o tempo envelhecem assim como
nós.
Redescobrir papeis de poeira,investigar palavras e orações.
Definhar as certezas fúnebres do passado, madrugadas de ecos sobre tapetes e quartos.
Definhar as certezas fúnebres do passado, madrugadas de ecos sobre tapetes e quartos.
Verdes folhas refletem amarelado quente solar,cura árida tal
qual o clima.
Terra em fumaça desliza pedras, ardência de dias em
degastadas entranhas .
A velha senhora prepara seu chá milagroso.
A velha senhora prepara seu chá milagroso.
Capim santo sobre pobres-desentendidas formigas, costumes
orgânicos sobre líquidos milagrosos.
Tapetes e ofertas à oxalá.
Tapetes e ofertas à oxalá.
Talbert Igor
sábado, 21 de julho de 2012
UM ALQUIMISTA NA ESTRADA
(Imagem Isadora Furlan)
Sempre que passava, carregado de fardos, pela pequena estrada em direção ao vilarejo, podia sentir um cheiro forte e estranho que o vento trazia do meio da vegetação.
Certa vez, voltava com meus camaradas para o
vilarejo e parei em um ponto da estrada. Percebi aquele poderoso odor
misterioso que cortava galhos secos de difícil acesso. Lembrei-me da história
que contavam sobre um velho solitário que habitava aquelas bandas e o quão louco diziam ele ser.
-Vocês não sentem
esse forte e estranho odor? Perguntei aos meus colegas. Nenhum deles parecia entender
o que eu estava tentando explicar.
Convidei-os para
irem a procura desse forte cheiro e nenhum quis me acompanhar. Diziam ser
coisa do caipora, mas voltaram a falar a história do velho louco solitário. Logo
depois partiram apressados com seus fardos nas costas.
Pus-me adentro
ao mistério vivo de plantas secas, que pareciam esconder alguma coisa grandiosa,
por causa da dificuldade que ofereciam aos movimentos.
Andei um bom
tempo até chegar a um ponto razoável onde pude observar e ver uma cabana,
palhas de coqueiro embaixo de uma enorme e carregada quixabeira.
Havia de tudo
naquele pequeno ponto. Animais, objetos, frutas regionais e regionais ares
mágicos de todo um imaginário sábio popular. Bodes em um cercado velho, uma
pequena plantação de milho que era visitada por bicadas de uns agitados joões.
Pude ver uma
figura que andava com passadas quase que calculadas, acompanhadas por cacarejos
de galinhas observadoras. Era um homem, uma figura coberta por um traje de
couro, quase que camuflado. Ao menos vi sua branca barba, um senhor enrugado do
esquecimento moreno.
O velho homem
parou em frente de um grande balcão carregado por vasos substanciosos, peças de
ferro, couro e madeira que pareciam ser seus principais instrumentos. Revirava
prateleiras e pela agonia com que derrubava suas frágeis cabaças parecia ser
algo de uma necessidade extrema.
Eis que o velho
surge com um enferrujado, mas eficiente facão. Começava a cortar fardos de umas
palmas verdes e completava os cestos com um quase capim cinza.
Parecia não se
importar com o suor que caia do seu corpo. Um Sofrer em uma gaiola de taliscas
alegrava o seu trabalho, com um alaranjado raro para o fim do dia. Cores
ditam o seu ritmo cansado.
Parou por um
pequeno período de tempo para matar a sede em um pote de barro. Logo depois
abriu uma garrafa de cachaça e bebeu uma dose, percebi seu místico, pois cuspia
um pouco para o santo. Ria sozinho, criando coragem outra vez.
Seguiu em
direção à seca vegetação, pude vê-lo sendo devorado no cinza da cor até ouvir um
profundo e respeitado eco. Era a oração rimada do velho homem que fazia com que
suas cabeças o seguissem adentro ao cercado de madeira.
Anoitecia e o
homem parecia concluir seu atarefado dia.
De repente levei
um susto quando pude escuta-lo como uma voz bem próxima, quase que como um
segredo a dois, ele pronunciou:
- Mais um dia...
Dominar e ser dominado! .
O sol iria
dormir no pé da serra e o homem parecia se preparar para acorda-lo amanhã bem
cedo. Eu me preparava para sair e voltar para minha casa, quando ia retomando
ao caminho que me conduzira até aquele ponto, avistei ao virar em direção à
estrada, o velho homem me encarando e se arrastando em minha direção.
Fiquei
paralisado, pois não percebi o quão ele foi rápido ao fingir que entrava na cabana...
E como ele foi parar bem atrás de mim tão rapidamente? O velho me observava
sorrateiramente esse tempo todo.
Continuou vindo
em minha direção com um tom de intimidação, quando já estava me alcançando,
pronto para me atingir com seu movimento, eu acordei quase que como um susto de
um grande pesadelo, em um lugar incomum para o meu abrir de olhos.
Percebi que
tinha dormido por um bom período de tempo. Já não era mais um entardecer e
olhando para o meu relógio de pulso, vi que eram duas da tarde. Estava com as
roupas sujas e cobertas por muitas folhas, pequenos insetos passeavam por meu
corpo.
Levantei do chão
e me apoiei em um tronco de cajueiro. Pude perceber que estava próximo da
cabana do velho homem, o fogão à lenha estava aceso com uma panela de barro que
cuspia seus vapores para o teto. Não vi o velho e a cabana parecia estar sem ninguém.
Escutei gritos
vindos do norte em direção ao caminho que tinha percorrido até chegar à cabana...
caminho que ligava até a estrada. Gritos pareciam buscar alguma coisa.
Fui em direção
ao caminho e chegando aos gritos, vi que vinham dum grupo de moradores do
pequeno povoado.
Diziam que
estavam me procurando, um deles contou-me que eu estivera sumido por quatro
dias e que eles me procuraram esse tempo todo.
Faziam muitas
perguntas de onde eu estive e o que estava fazendo. Contei-lhes a história do
velho e de tudo que eu vi. Quis mostrar a esquisita cabana, o cercado e os
animais para que acreditassem na minha história e vissem que a lenda do homem solitário
era verdadeira.
Guiei aqueles
camaradas até a localização de onde eu estivera. Chegamos e a cabana havia
sumido. Tudo havia desaparecido, os animais, o cercado, o fogão e o próprio
velho.
Avistei uma pequena
gaiola feita de taliscas com penas alaranjadas que pareciam Ser de um Sofrer. Perto
da gaiola pude ver uma pequena plantação de milho que já estava quase toda seca
e sem vida, restavam apenas oito espigas que eram disputados por bicadas de uns
desesperados e agitados joões.
Quando todos
pensavam que eu estava louco e quando partíamos em direção ao vilarejo, todos
escutaram uma oração que cortava aquela cor cinza e fazia um poderoso e respeitado
eco na vegetação. Pude sentir que era o velho homem, pois aquele forte odor
ecoava pelos ares como nunca tinha sentido antes.
Alguém gritou:
-Parece que
estão recolhendo suas cabeças para o curral mais cedo.
Mais um dia,
nada como dominar e ser dominado.
Talbert Igor
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