sábado, 27 de julho de 2013

CONVERSA FIADA



O feriado em Cachoeira tinha sido o melhor de sua vida,  como a vida cobra os detalhes, ele retornava para Salvador em uma tarde de domingo.
Sentado na poltrona  número 20, ele observou que o ônibus ia aos poucos  ficando lotado e viu um grupo de amigos alcoolizados a discutir sobre futebol.
Riam e falavam muito alto.
Uns outros conseguiram acomodação, mas quatro deles ficaram em pé no corredor do ônibus.
-Rapaz, o Vitória brocou ontem no Barradão! - berrou um dos que estavam sentados.
-Passar pelo ABC é fácil... Meu Bahia meteu foi a zorra no Fortaleza! - falou um dos que estavam em pé.
Um outro, enquanto bebia uma lata de cerveja quente, falou com certo ar irônico:
-Calem a boca cambada de corno manso e parem de falar desses times de merda, o verdão é quem broca!
 Todos começaram a rir com a situação, abraçando e bebendo a cevada até que um outro infeliz, ainda rindo, berrou:
-Olha a zoada rebanho de viado mole!
Todos pararam de rir e olharam feio para o sujeito que continuava rindo.
Um deles berrou:
-Viado é você e o seu pai, seu fí dí quenga rapariguêra!
Vendo a alegria  se esvair , quando o ônibus chegou à rodoviária da cidade vizinha, fizeram o sujeito descer do ônibus sob vaias, latinhas e xingamentos.
No corredor do ônibus ouvia-se uma agitação maior do grupo. Dentre tantas baboseiras, uma frase soou mais alta das demais:
-Cabra descarado!  Precisa aprender a respeitar um cara hômí.


Talbert Igor

terça-feira, 23 de julho de 2013

PLURAL




Contra-ataque maciço à célula nervosa
Somos e enferrujamos, meu camarada
Saltamos entre a curva e o dedo da estrada
Contamos os ruídos dessa fonte fervorosa.

Abre-se a porta cadente do signo,
da psicologia e silêncio que abraçaste
Tu, que da vontade foi um ser digno
Parede imaginada em cálcio e traste.

Olhar estagnado entre curvas de Safo
Ilha fluindo em mares de suas retinas
Musas de nudez, gosto e agrado
Deusa prateada entre adoração de fulô meninas.

Aos poucos perdeste os momentos plácidos
de narrativa em compasso túrbido.
Eco em cantiga de asas dum alvorecer nostálgico,
Acendendo os incensos para ascensão noturna:
"Porque o que amadurece plenamente pode apodrecer."





              Talbert Igor





sábado, 6 de julho de 2013

223 – 11



Monstro da planície em pelagem e musgo
Superfície reluzente de cobre nas junções
Sossego cuspido em olheira vivente do vulgo
Frase sociopata de vidro marcando orações.

Trabalha com semelhantes de osso
Caminha entre as manadas de ar avarento
Suga, observando as partes que emergem do fosso
No arado do dia, nas pás de vento.

Engenhoso nos fios e aparelhagem
Na solda placa trincada em prata
Fusível ligado às molas de aprendizagem
Neurônio fulgente de falaz autocrata.

Mandrião cravado no onze de fevereiro
Curvado ao traço de um 23 patriarca
Selo amargo de uma geração foi o primeiro
Raiz escura que atravessa a barca,
Loki em capa promessada de menino engenhoso.

               

                                Talbert Igor