terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

OS VIROTES DO CLUBE DA LUTA


Rafael Vilanova e Talbert Igor Tocam duas músicas clássicas, Samba Pa Ti (Carlos Santana) e Wild Horses (Rolling Stones), altas horas da madrugada.

VAGA-LUME




Um foco na escuridão de uma noite fria
Tremia e dançava entre os ventos
Vagava entre árvores e o brilho coagia,
Seguia e lembrava fantasmas que tanto afugento.

Luz esverdeada de um ser pequeno
Sinaliza para o destino breve
Da atenção que vive querendo
Espera que o censo se quebre.

Inimigo do dia e das estrelas solitárias
Navega no imenso céu da obscuridade,
Sinaliza o mistério por toda a cidade
É a presa das pragas aviárias.

Vaga-lume que guia olhos confusos
Dos loucos mestres do engano
Soberano, vigia os que lhe fazem de estudo
Do brilho noturno continua esverdeando. 



            Talbert Igor

MARIA PRETA VELHA



Maria dos terreiros, das mandingas e estradas
Da velhice, virtuosas crendices alinhadas ao barro
Da singela vida nos tabuleiros, passadas curtas e apressadas
Entre quartas, quando eu carregava suas sacolas de feira.

Preta velha dos cajueiros e da caatinga
Maria menina, oferecia balas a Cosme e Damião
Das castanhas ensacadas, doces e trabalhosas
Sobre cantigas antigas, senhora da alegria e solidão.

Maria dos provérbios certeiros e bom tino
Das cocadas, acarajés e licores
Aprendi a gostar desde menino
Sempre só, da vida provava os sabores.

Preta velha dos temperos e mesmo lugar
Fez-se guerreira contra males cotidianos
Avisada pelos caboclos que iriam chegar
Seguiu sábia por tantos anos.

Maria, mulher, mãe, viúva de uma casa
Dos filhos que perdeu para o mundo sepulcral
Ainda sofria dor descomunal
De seus anjos arrancaram-lhe as asas.

Maria de um velho vestido azul
Lenço sobre os cabelos embranquecidos
Pés sobre sandálias de couro cru
Vaidades e cuidados que com o tempo esquecidos.

Preta velha de brincadeiras e risadas
Da fé verdadeira que tinha em Deus
Plantas, aves e flores rosadas
Sempre me dava presentes seus.

Preta Velha que se foi para o criador
Maria que todos diariamente respeitavam
Preta velha de um olhar carinhoso de amor
Maria que todos amaram.
   


                                                         
                                Talbert Igor

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

CORDEL BLUES


(Talbert Igor, Thalles Nathan)

Intro: E, A, B7
 E                                                                 A
Eu fico a pensar na distância que coube entre nós
E                                                          A
Olho pra janela e o que vejo já não me satisfaz... não mais
         E                              B7                           A                                    E       B7
vou pra minha cama e me escondo nos lençóis, pensando o que vai ser de nós,outra vez.
E                                                  A
Na rua do céu sofri uma topada a mais
      E                                                 A
Na pista a armadilha que me trouxe a você
E                                       B7             A                                     E     B7
Insana a noite a sorte conduziu a voz, pensando o que vai ser de nós, outra vez.
E                                      A
Pra menina que eu dei os mares
E                                       A
pra te conduzir barcos e astronaves
E                                   B7             A                                     E     B7
olho pro céu com um desejo feroz, pensando o que vai ser de nós, outra vez.

Intro: E, A, B7

B7                                A
A nossa história virou cordel
E                                B7      A    E
Nos tempos da rua do céu... do  céu.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

A CORUJA



A lua iluminava a noite fria
Vi uma coruja a me observar.
O que queres saber doce mistério,
Para esse pobre coitado não se cansas de olhar? 
Tu não escarneces das minhas misérias, 
Dos meus medos, e por esses critérios aqui mesmo irei ficar.
Cara amiga, tornei-me uma sombra
um ébrio do dia a dia.
Hoje sofro com a vida insana
de derrotas e agonias.
Das essências tenho fome e tenho sede
mas como um cão rejeitado, sou privado desses prazeres.
Mas o que queres saber doce mistério?
Acho que mais nada.
Sumiste como a morte 
Que quando chega nada fala.



       Talbert Igor

PEQUENO FLAMENGUISTA



E lá se vai o menino correndo descalço pela rua esburacada.
Franzino, com a velha bola abaixo do braço, camisa do flamengo e o número dez nas costas.

É um sonhador!

Dribla a miséria e as dificuldades a cada minuto.
Continua correndo. Dribla mais um e quando chega, marca um singelo e comemorado gol.
Menino do interior aclamado feito homem, Vencedor do próprio destino.
Perde-se nos labirintos da mente, mas é o protagonista nos últimos minutos.
É telespectador de seu próprio e confuso espetáculo.
Quando recupera a bola é derrubado pela incerteza, mas logo se levanta pelas memórias do passado ingênuo.

Aspira novos ares e ganha novas cicatrizes!

É desafiado a buscar o triunfo em cartas perdidas. 
Chega a duvidar da própria capacidade e sofre repetidos ataques, quando por sorte é interrompido pela reflexão...

E lá se vai o pequeno flamenguista preocupado com os lampejos que lhe cercam na pequena área da vida.




                                                                    
                                                                                                   Talbert Igor

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A NOITE




Meus caninos apodrecem lentamente
Parece prudente que eu seja vencido.
Que se faça a vontade e se cumpra a sina,
Aceito a sentença que vem do desconhecido. 
Ofereço a Baco o rubro da carne e as tentações do prazer.
As tradições milenares, a vontade de ser,
Ser além do esperado. 
Perco-me na plantação de sonhos! 
Acho o motivo em um copo e o esqueço em tropeços.
Por idéias, estou preso e acorrentado
Leso por não acreditar em chances que sempre chegam. 
Ouço o ranger da alvorada e as passadas do relógio...
Que mistérios me aguardam ao fim do quarteirão? 
Abatido, termino o vinho que tanto me acompanhou 
Desapareço na escuridão entre vielas e calçadas. 
Vou chegando ao término de uma rotina que sempre tive
Relembro a fotografia sinto lentamente à brisa forte
O destino faz-me perceber a cortina que estivera perto
Meu corpo pálido e frio é um convite a morte.

              Talbert Igor

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A MÁQUINA DE ESCREVER






Mãe, se eu morrer de um repentino mal,
vende meus bens a bem dos meus credores:
a fantasia de festivas cores
que usei no derradeiro Carnaval.
Vende ese rádio que ganhei de prêmio
por um concurso num jornal do povo,
e aquele terno novo, ou quase novo,
com poucas manchas de café boêmio.
Vende também meus óculos antigos
que me davam uns ares inocentes.
Já não precisarei de duas lentes
para enxergar os corações amigos.
Vende , além das gravatas, do chapéu,
meus sapatos rangentes. Sem ruído
é mais provável que eu alcance o Céu
e logre penetrar despercebido.
Vende meu dente de ouro. O Paraíso
requer apenas a expressão do olhar.
Já não precisarei do meu sorriso
para um outro sorriso me enganar.
Vende meus olhos a um brechó qualquer
que os guarde numa loja poeirenta,
reluzindo na sombra pardacenta,
refletindo um semblante de mulher.
Vende tudo, ao findar a minha sorte,
libertando minha alma pensativa
para ninguém chorar a minha morte
sem realmente desejar que eu viva.
Pode vender meu próprio leito e roupa
para pagar àqueles a quem devo.
Sim, vende tudo, minha mãe, mas poupa
esta caduca máquina em que escrevo.
Mas poupa a minha amiga de horas mortas,
de teclas bambas,tique-taque incerto.
De ano em ano, manda-a ao conserto
e unta de azeite as suas peças tortas.
Vende todas as grandes pequenezas
que eram meu humílimo tesouro,
mas não! ainda que ofereçam ouro,
não venda o meu filtro de tristezas!
Quanta vez esta máquina afugenta
meus fantasmas da dúvida e do mal,
ela que é minha rude ferramenta,
o meu doce instrumento musical.
Bate rangendo, numa espécie de asma,
mas cada vez que bate é um grão de trigo.
Quando eu morrer, quem a levar consigo
há de levar consigo o meu fantasma.
Pois será para ela uma tortura
sentir nas bambas eclas solitárias
um bando de dez unhas usurárias
a datilografar uma fatura.
Deixa-a morrer também quando eu morrer;
deixa-a calar numa quietude extrema,
à espera do meu último poema
que as palavras não dão para fazer.
Conserva-a, minha mãe, no velho lar,
conservando os meus íntimos instantes,
e, nas noites de lua, não te espantes
quando as teclas baterem devagar

                       
                   Giuseppe Ghiaroni

 http://www.youtube.com/watch?v=BgnQO_qAOzk
                                         
                                      

A VOZ FAMILIAR



Uma voz ecoa intimidando caminhos
Chega a pronunciar blasfêmia e pecado
Destrói idéias, rindo, consome o vinho
Segue o martírio de ser um amaldiçoado.

É capaz de criar e em detalhes se perder
Faz-se monstro e herói, tão criativo e tão cego
Desenvolve a armadilha que o faz sofrer,
Diariamente afeta o seu louco ego. 

Lembro-me das vezes em que chegavas embriagado
Brindavas com a derrota e cuspia os pilares da moradia.
Logo a sarjeta, era rapidamente agregado,
Sentia a angustia ao fim do dia. 

Que fizeste para chegar a tal estado? 
És um tolo por deixar-se levar ao infortúnio!
Substitui-se por promessas repetidas, 
São abatidas e por gestos és vedado.

Tu reges entre pai, filho, salvador e tirano.
O irmão crápula, o bem e o mal da família
A fé e a descrença que inspiram ao pequeno
És a ausência de mais um dia longo, dentre tantos, o desengano. 




Talbert Igor

O SUICIDA


O suicida caminha cabisbaixo,
Percebe o fracasso,
Planeja e advinha.

Esse ator de platéia vazia contempla a dança da fumaça
Que lhe escolhe deslumbra ao delírio,
Tenta fugir da nostalgia.

É o corsário que vaga por mares desconhecidos,
Por pântanos cotidianos e desertos vividos,
Silencia-se ao espelho.

O suicida é o mesmo paranoico de ontem, 
De frases e gestos Arrependidos
Por pálpebras sonolentas veste o cansaço.

É o cálcio que sustenta os ossos miseráveis
Da cabeça é o fio de cabelo que se desintegra,
Agrega-se aos demônios que aos ouvidos lhe sopram palavras lúcidas.

O suicida é a criança de hoje e o louco de amanhã.
É a sombra negra do telhado que acorrenta o olhar,
É um corpo aparado, pode estar em qualquer lugar.


                                     
               Talbert Igor