domingo, 17 de novembro de 2013

UM LEILÃO QUALQUER



Alguns senhores da burguesia da cidade se reuniram para um leilão de antiguidades.  Dentre esses, o senhor Falcão, um homem rico e conhecido por todos por sua avareza, ganância e orgulho, estava presente na ocasião e acompanhado por suas duas jovens e cobiçadas sobrinhas.
O leilão começou e Falcão não se interessou muito pelo que viu nem pelos objetos disputados em questão.
-Uma velharia que qualquer um pode ter. Só na minha outra fazenda tenho vários desses quadros.  Não irei gastar meu dinheiro com essas baboseiras.     -  Comentou Falcão com uma das sobrinhas.
Quando ele terminava de dizer essas palavras, o leiloeiro anunciou:
-Senhores, temos aqui uma bela coleção de moedas. Uma beleza rara!
Logo os senhores começaram a ditar seus preços:
-Um conto!     -  Gritou um senhor do fundo do salão.
-Três contos!     -  Gritou outro senhor.
-Quatro contos de réis!     -  Berrou o Falcão.
- Cinco contos!     -  Falou um cavalheiro que estava ao lado de Falcão.
Falcão, vendo as moedas, lembrou-se de quando era criança e de sua coleção de moedas.
Ele, logo não perdeu tempo, e vendo que poderia esbanjar seu dinheiro e poder, entrou na disputa e berrou:
-Seis contos!
Já sonhava com a coleção de moedas em sua estante de vidro.
Os outros senhores pararam por um tempo, em sua grande maioria, e iam desistindo da disputa pela coleção de moedas. O lance, só por algumas moedas, já estava ficando muito caro. Dessa maneira, nessa disputa restaram apenas Falcão e o cavalheiro que estava sentado ao seu lado.
O Cavalheiro do lado exclamou mais uma vez:
-Dou sete contos!
Falcão ficou uma fera. Apertava as mãos e não parava de bater com o bico da bota no pé da cadeira. Ninguém nunca tinha ido tão longe a desafia-lo dessa maneira.
-Como pode ser tão atrevido? Agora virou uma questão de honra. Conseguirei essas moedas custe o que custar!     -  Cochichou o orgulhoso Falcão.
-Mais alguém, senhores?     -  Falou o leiloeiro.
Falcão levantou-se da cadeira e berrou mais uma vez:
-Dou oito contos!
Todos os outros senhores que estavam no salão pararam para observar a disputa acirrada.
O cavalheiro não ficou para traz, e abrindo um grande sorriso, falou:
-Nove contos!
Era o ápice da raiva de Falcão. O homem começou a morder os lábios e ficar com a face avermelhada. As sobrinhas, percebendo a situação, tentaram acalmar o tio, mas de nada adiantou muito.
Mais uma vez o leiloeiro falou:
-Mais alguém, senhores? Alguém? Dou-lhe uma, duas...
Antes que pudesse dizer três, Falcão berrou:
-Dou nove e quinhentos!
Nem mais um segundo e o outro cavalheiro disse:
-Nove e setecentos! 
Falcão não se intimidou:
-Nove e oitocentos.
Era seu último lance. Já estava ficando sem dinheiro, e percebendo pela feição do seu adversário, podia jurar que as moedas seriam suas.
O leiloeiro também. E vendo que aquele lance chegara ao fim, já ia batendo o martelo. O cavalheiro deu mais um lance:
-Nove e novecentos!
Todos no salão esperavam o fim da disputa e até o próprio cavalheiro, pois este já comemorava a vitória.
Antes que o leiloeiro batesse o martelo, Falcão falou uma coisa improvável:
-Dou dez contos e ainda dou mais. Ofereço a mão das minhas duas sobrinhas!
O cavalheiro desistiu da disputa, pois já estava sem dinheiro, e percebendo a sede de Falcão por tais moedas, não fez muito caso. Apenas estendeu a mão em direção a Falcão e disse:
-Parabéns. Agora apenas aprecie o sabor e a luz desse  metais.
Já Falcão foi receber o disputado prêmio, e nem quis saber das sobrinhas nem de mais ninguém. Pegou sua caixa de moedas foi para casa e chegando à varanda sentou-se em sua cadeira de balanço e ficou se admirando com o brilho dos metais, rindo que parecia uma criança.



Talbert Igor



(Parafraseando uma anedota Machadiana/2012.2.)