terça-feira, 14 de julho de 2015

ESPUMAS FLUTUANTES



Certa vez, um amigo de extremos graves
Emergiu das águas thermais em um estado casto
E vendo-se numa experiência de limite vasto
Atreveu-se a brincar de ser Castro Alves.

Era metamorfo em globos azuis e pele amarelada
Sendo coerente poucas vezes e no mais sonolento,
Acertava um ponto inimaginável em algum momento
Mas depois voltava com incoerência em passada alada.

Acordando no clima cinzento daquele dia,
Pôde sentir no corpo os mesmíssimos sinais
Entre as veias azuladas dos traços ancestrais,
A marca frágil do excesso ressoando agonia.

Desconhecia a proporção que experimentou
Tentando conciliar palavras cuspidas ao oceano  
E com ideias avulsas percorrendo-lhe o rosto plano
Já entre o líquido, o sólido e o gasoso contemplou.

Quem, dentre todos os soteropolitanos adaptados
Teria a esperteza rotineira de escolher entre jazigos
E escrever sobre olhos escaldantes e risos amigos
Pra depois disparar com os dedos para todos os estados?!

Pois naquela praia alva de Amaralina anáfora
Enxergarias a ferrugem se estendendo pela cidade
E que tu, adentrando as facetas psicóticas da idade
Fez-se livre com o peito a cuspir fumaça e metáfora.




Talbert Igor

sexta-feira, 10 de julho de 2015

AVE, TEMPUS (Una Viaticu)




I


Como uma invasão ou uma visita imprevista
Surge pela janela noturna uma mariposa
Debatendo-se em agonia rente a minha vista
No susto do momento, e no vibrato das cores, ela pousa.

Voa em certo espaço confuso e se depara
Com a cena de objetos reluzentes de doçura
Através do lençol das possibilidades em que ampara,
A matéria das incoerências alucinógenas de minha figura.

O corpo em reflexos trêmulos e de extremo gélido na decolagem,
E a tendência cósmica na música metálica que se estende numa Sitar
Fundem-se divinamente em simbiose de eras gerando uma passagem,
Concreta de mistérios oriundos dos milenares acordes de Ravi Shankar.


II


O tempo se escorre em passo lento
E essa gente que se afunda em areias escaldantes de ideias
Seguindo como quem tateia o vácuo ao relento
Esperando na agonia e a pronunciar uivos de alcateias.

A memória andou te traindo esses dias
Com o mesmo pássaro ciscando a mente torta
E aquele agudo de bicadas frias,
Martelando os tímpanos em batidas de porta.

Esse ruído de engrenagem a denunciar minha presença
E eu me pego regurgitando palavras para a criatura
Que sendo ave monstruosa se alimenta de desventura
Enchendo o papo de sentimento amargo e descrença.


III


Provo o sabor dessa experiência multicolor
E atinjo o ápice necessário dentro dum segundo
Para ver a íris e a marula em um momento fecundo
Que também é líquido pelas goladas frias em licor.

Essa sensação de conhecimento esotérico amiúde,
Chega derrubando as portas e espalhando o nevoeiro
Que me invade por instrumentos sonoros o corpo inteiro
Preenchendo as ambiências d´alma pelo dedilhado sútil dum alaúde.


Aquele turbilhão de flashes que já começa a se esvair
Como a pupila se contraindo em calmaria satisfatória
E eu começo a remoer as partes fragmentadas dessa trajetória
Encaixando as peças do jogo vitalício antes que possas partir.





Talbert Igor