quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

NOVENTA E DOIS MENOS UM



Hábito, eu habito.
Ser hábil hoje,
Não havendo histeria
Na estória habitável dos homens.

Hálito, tu tens soprado pelos seis cantos de preces.
No escárnio de sombra flutuante,
Dos ventos oriundos de superfície cortada por hélices
Em mão cintilante de criatura operante.

Um, dois, três... Sinais
De tríade santíssima! Tu almeja em suspiro fervoroso,
Na progressão de passo religioso
No receio recorrente de pecados fatais.

Quando chega o arrebol de retinas afiadas
Em cálculo criador dum paladino opalino,
Meticulosamente em nimbus e guaritas passadas
No globo desatento dum menino.

Nos passos de metamorfose mefistofélica sucumbida
Sendo antropofágico sete vezes por semana,
Nas substâncias que atravessam fétida ferida
O verme oroboro da dignidade humana.

Para o vigésimo primeiro... Que pereça
Na geração errante! Que Dalí coloriu em verbo dantesco,
Os traços que marcaram todo um rosto grotesco
Até as eras augustas de quimeras que o homem mereça!





Talbert Igor

sábado, 14 de dezembro de 2013

MEMPHIS TOC, TOC



Era uma noite de quinta - feira, e na sala do apartamento ressoava uma seleção mista de blues acompanhada por improvisos desafinados de um Memphis maltrapilho.
O Israel, o cara do andar de baixo, ficou incomodado com as batidas da marcação 4/4 que o Memphis acompanhava com o pé esquerdo e começou a dar murros na parede.
Logo depois a mulher do tal Israel veio bater na porta do 301 dizendo que o marido precisava de silêncio:
-Olá vizinho. Poderia fazer menos barulho, por favor?
-Claro que sim. Me desculpe, boa noite.
Eram sete da noite de um típico sábado e o Israel parecia não entrar no clima dum som - meia boca  - decadente.




                     Talbert Igor


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

CADMO



Vomito a baía de todos os santos.
Nas vacas magras dos dias sujos
Nos apuros religiosos dessas aves tortas,
No praguejar cigano e andarilho
Através do trilho enferrujado do subúrbio soteropolitano,
Vomitando devoção por todos os santos.

Vomito a baía de todos os santos.
E, persistindo na memória, Deus não aparenta ser tão lúdico.
Pois nesta terra de tantas elevações contorcidas,
Os tambores cortam ruínas de ruas aterradas
Se repetindo no mandato de monarquia através de arestas,
Vomitando ares barrocos por todos os santos.

Vomito a baía de todos os santos.
A mazela contida no segmento da vida homogênea
Boca do inferno datado de colônia desprovida
Do condor em transitoriedade entre espumas flutuantes
Para ti, senhora dona Bahia - heterogênea de pranto,
Vomitando notáveis concretos por todos os santos.

Vomito a baía de todos os santos.
No farol que aponta incertezas de calçadas
Para cada dia do ano que tem um representante crucificado
Aos pontos de terreiros dos pretos velhos pescadores d´alma
A fumaça que sobe dos castiçais que Brotas remando,
Vomitando palavras amaldiçoadas por todos os santos.

Vomito a baía de todos os santos.
Aspiro ao misticismo dos olhares
Da mefistofélica guarita da vida
Restando a antropofagia da semana
No cume de crânios e na epifania de elevadores,
Vomitando a sombra cósmica de todos os santos.

Vomito a baía de todos os santos.
Na encruzilhada que oculta traços sob a praça do poeta
Que corta o traço alcoolizado de segredo erradicado
Que define a lei repetida por papila arrastada
Onde matéria se exprime trocando astros por círios,
Vomitando a acidez maculada de todos os santos.




Talbert Igor


domingo, 17 de novembro de 2013

UM LEILÃO QUALQUER



Alguns senhores da burguesia da cidade se reuniram para um leilão de antiguidades.  Dentre esses, o senhor Falcão, um homem rico e conhecido por todos por sua avareza, ganância e orgulho, estava presente na ocasião e acompanhado por suas duas jovens e cobiçadas sobrinhas.
O leilão começou e Falcão não se interessou muito pelo que viu nem pelos objetos disputados em questão.
-Uma velharia que qualquer um pode ter. Só na minha outra fazenda tenho vários desses quadros.  Não irei gastar meu dinheiro com essas baboseiras.     -  Comentou Falcão com uma das sobrinhas.
Quando ele terminava de dizer essas palavras, o leiloeiro anunciou:
-Senhores, temos aqui uma bela coleção de moedas. Uma beleza rara!
Logo os senhores começaram a ditar seus preços:
-Um conto!     -  Gritou um senhor do fundo do salão.
-Três contos!     -  Gritou outro senhor.
-Quatro contos de réis!     -  Berrou o Falcão.
- Cinco contos!     -  Falou um cavalheiro que estava ao lado de Falcão.
Falcão, vendo as moedas, lembrou-se de quando era criança e de sua coleção de moedas.
Ele, logo não perdeu tempo, e vendo que poderia esbanjar seu dinheiro e poder, entrou na disputa e berrou:
-Seis contos!
Já sonhava com a coleção de moedas em sua estante de vidro.
Os outros senhores pararam por um tempo, em sua grande maioria, e iam desistindo da disputa pela coleção de moedas. O lance, só por algumas moedas, já estava ficando muito caro. Dessa maneira, nessa disputa restaram apenas Falcão e o cavalheiro que estava sentado ao seu lado.
O Cavalheiro do lado exclamou mais uma vez:
-Dou sete contos!
Falcão ficou uma fera. Apertava as mãos e não parava de bater com o bico da bota no pé da cadeira. Ninguém nunca tinha ido tão longe a desafia-lo dessa maneira.
-Como pode ser tão atrevido? Agora virou uma questão de honra. Conseguirei essas moedas custe o que custar!     -  Cochichou o orgulhoso Falcão.
-Mais alguém, senhores?     -  Falou o leiloeiro.
Falcão levantou-se da cadeira e berrou mais uma vez:
-Dou oito contos!
Todos os outros senhores que estavam no salão pararam para observar a disputa acirrada.
O cavalheiro não ficou para traz, e abrindo um grande sorriso, falou:
-Nove contos!
Era o ápice da raiva de Falcão. O homem começou a morder os lábios e ficar com a face avermelhada. As sobrinhas, percebendo a situação, tentaram acalmar o tio, mas de nada adiantou muito.
Mais uma vez o leiloeiro falou:
-Mais alguém, senhores? Alguém? Dou-lhe uma, duas...
Antes que pudesse dizer três, Falcão berrou:
-Dou nove e quinhentos!
Nem mais um segundo e o outro cavalheiro disse:
-Nove e setecentos! 
Falcão não se intimidou:
-Nove e oitocentos.
Era seu último lance. Já estava ficando sem dinheiro, e percebendo pela feição do seu adversário, podia jurar que as moedas seriam suas.
O leiloeiro também. E vendo que aquele lance chegara ao fim, já ia batendo o martelo. O cavalheiro deu mais um lance:
-Nove e novecentos!
Todos no salão esperavam o fim da disputa e até o próprio cavalheiro, pois este já comemorava a vitória.
Antes que o leiloeiro batesse o martelo, Falcão falou uma coisa improvável:
-Dou dez contos e ainda dou mais. Ofereço a mão das minhas duas sobrinhas!
O cavalheiro desistiu da disputa, pois já estava sem dinheiro, e percebendo a sede de Falcão por tais moedas, não fez muito caso. Apenas estendeu a mão em direção a Falcão e disse:
-Parabéns. Agora apenas aprecie o sabor e a luz desse  metais.
Já Falcão foi receber o disputado prêmio, e nem quis saber das sobrinhas nem de mais ninguém. Pegou sua caixa de moedas foi para casa e chegando à varanda sentou-se em sua cadeira de balanço e ficou se admirando com o brilho dos metais, rindo que parecia uma criança.



Talbert Igor



(Parafraseando uma anedota Machadiana/2012.2.)



sexta-feira, 25 de outubro de 2013

CORTADEIRA



Por que me rasga a epiderme vespertina
Ó formiga de invertebrada superfície 
E, da rala grama atravessando fios de imundície,
Desviando sobre a aracnídea teia de cortina?!

Pois suas patas flutuam entre folhas
E, nas bolhas de ar que se enterra,
À côté de un chien noir
Ao luar e sóis desta terra.

Passas por sobre minhas vestimentas
Ao certo anuncias ao restante do formigueiro
E, aos montes que avançam ao ataque primeiro
Às migalhas dos filhos que alimentas.

Ah! Atrapalha-te nos pontos de agitação
Se o vento urge por sobre suas finas antenas
No tempo de açúcar energético apenas,
Tu, assoprada contra as sombras do chão.

A companhia repetida por semelhante
As sementes que Schopenhauer advertia
Que somes e apareces à luz do dia,
A morte e o segmento da espécie operante.

O jardineiro que varre sua trilha
E, humilha seu orgulho resistente
A revolução de Orwell estaria evidente,
Se não fostes apanhada descuidada.



Talbert Igor


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

AVE SANGRIA - O PIRATA (1974)


Um pouco do psicodelismo nordestino.
 A banda Ave Sangria era formada por: Marco Polo (vocais), Ivson Wanderley (guitarra solo e violão), Paulo Raphael (guitarra base, sintetizador, violão, vocal), Almir de Oliveira (baixo), Israel Semente (bateria) e Agrício Noya (percussão).


sábado, 21 de setembro de 2013

VERTIGEM



Pois vá, criatura abissal!
No cume do costume escapado
Na herança corrente do gene esticado
Na pata oca de um dia normal.

Arranque a daninha flutuada dos corredores
Através da cor serena que fita calada
Na folha seca duma epiderme escura – alada
Chegando ao ápice nostálgico das dores.

Motor no peito d´aço sob duas rodas de lambreta rubra
Outro que avança em montaria quadrúpede arrastada
Em crivo que desmede no alarde acorrentado da estrada
Figura bestial em refugar de dupla linha recubra.

No cascalho de palavra registrada
Em fábula de fazenda aludida
Nas mestras águas de geração punida
Em gesto ecoado de filhos errantes.

Miocárdio atacado por fumaça dos anos operantes
Circuito queimado em via entupida
O corpo que cai em solo sentido da vida,
Músculo paralisando seguindo até que se derrame.

Largura em bigode e calvície que não foram conhecidos
Larva aventureira em terras decimais do nhô
Livre em eclipse mucoso na penumbra d´um avô
Levando célula coxa em sinais agradecidos.

         

             Talbert Igor

terça-feira, 10 de setembro de 2013

PASSERIFORMES


Ave depenada,
Chutando o balde da semana,
Aspirando vento lúdico.
Na pata de embriaguez
Sugando cristal de cevada
Almeja pecado sólido,
Arrastando-se por entre os anos.
Ave de tutano escasso do osso
Abortando luz na fenda do crânio,
Fazendo rastro curto por patas de gancho.
Voa, ó mazela alada!
Espalhe as penas que lhe restam
Sobre o terreno tardio das áreas;
No fruto que bicas, nas gotas que migram.
A mudança do vento lhe atravessando
Entre o olhar da criatura
E o acidente que encontra nas partículas em suspensão.
Descansa em galho celestial,
Na crosta de cores que carregas.
Elevada nas rotas de migração,
Na praça de migalhas trigadas.
Do trio travado ao fio de poste
Arais caminhados na corrente de plumas;
No arrulhar das ruas sombreadas.
A notícia se espalhando por folhas
Do elemento esticado na calçada,
Entre bando de norte performático,
Na morte de bandos avoados,
Por ser copia dentro do coletivo.
       


                Talbert Igor

terça-feira, 3 de setembro de 2013

É FÁCIL - ARNALDO BAPTISTA (LOKI? - 1974)



                                         É FÁCIL - ARNALDO BAPTISTA (LOKI? - 1974)


Foi preciso ter coragem artística e engajamento para achar uma porta em direção a uma saída dessa situação. E foi isso que Arnaldo Baptista fez. Ele conseguiu captar todas as mazelas que tinha e numa “metamorfose – artística – espacial e atemporal” deu vida a uma obra prima, resultando tudo isso num dos álbuns mais impactantes da música popular brasileira. “Loki?” se tornou um clássico justamente por ser único e segundo o próprio Arnaldo, nesse disco está contida toda a sua essência. 

sábado, 24 de agosto de 2013

TAMAREIRA


Quando suas aves alcançam a luz no final da tarde
Posso ver o olhar - fruto - pitanga
Sorridente em charme cacheado.
Helena de escultura em mistura
Voo raso nas curvas de vestido e curiosidade.
Perfume leve de doce maracujá
E na flor demonstro ser seu maribondo.
Nada sei dos mistérios ocorridos
Mas ouso provar da cor e simbologia dos licores,
De seu globo negro convidativo em desvios tímidos
E da verdade nas coisas que desconheço:

O corpo,
               a plastificação
                                      e o sorriso.

Lyra em formação melódicas de pontos seguidos no céu
Alfa brilhante no rastro de anos-luz à Vega
Contradição e tríade de bípedes destros,
Ligação nos caninos de beleza rara.
Silêncio de mãos,
Na chuva fina de quintas gravadas ao cobre
Quando ousamos musicar na memória de outrora.
Assim, nas coincidências de sinais crucificados
E palavras no limbo de tinta, pena e bico
Esperando sua estória na sombra da tamareira
Ou em terças, nos traços do calendário.


                         

                                   Talbert Igor



quinta-feira, 22 de agosto de 2013

HÉCATE



Na lua dos sonhos,
Despencando através das encruzilhadas
No rastro de Cérbero,
No eco de espectro
Morrendo tal as previsões que tinha.
Morrendo surreal, inquieto,
Inesperado como num despertar de um apavorante pesadelo.
Morrendo como os cardumes dos pássaros e os rebanhos dos peixes.
Despertando toda utopia canina,
Cuspindo em toda matilha dos porcos miseráveis
Bastardos - moribundos de um destino parecido ao dele,
E o mal sendo a maior fonte de inspiração.
Serpentes sugando pulsação do pescoço
Tríade santíssima das cabeças em vilarejos
Nos mitos crescentes da face oculta
Para atenuar os fios fantásticos de Blake.



                     
                                            Talbert Igor


sábado, 10 de agosto de 2013

ALUMÍNIO


Estando na janela de um desses prédios antigos daquelas redondezas
Bem na janela do meio, 
Podem-se ver os pés sendo engolidos por calçadas idosas e por ruas agitadas.
Podem- se ver!
Os homens em seus detalhes despercebidos de rotinas.
Na feira, carregando caixas de verduras.
Em bares ou cuspindo no chão. 
Suas mulheres com olhares cozinhados para lojas,
Carregadas de crianças e verbos prontos para serem descarregados a qualquer momento.
Podem-se ver todas essas pessoas, 
Mas elas não podem ver muito além do que está próximo.
Passos do conhecido ao desconhecido de portas
Chegando ao túnel e depois o porto.
Outro homem foi atropelado juntamente com seu saco e alumínios.
Ainda um homem,
Vestido em sua pele escura 
E deixando adormecer todo seu instinto e revolta.
Às vezes esquecemos de que eles também são iguais a nós.
Alguns outros se aproximam criando uma grande massa
E essa engole aquela figura estendida no asfalto.
Mas acho que logo se cansaram do modelo.
Uns tantos outros caminham muito além com seus sacos e alumínios
Misturando-se aos concretos e automóveis 
Nos tamarineiros, nas sombras e nas massas de gente.
Nos becos e paralelepípedos,
Nas ladeiras dos nossos dias.



                         Talbert Igor


sábado, 27 de julho de 2013

CONVERSA FIADA



O feriado em Cachoeira tinha sido o melhor de sua vida,  como a vida cobra os detalhes, ele retornava para Salvador em uma tarde de domingo.
Sentado na poltrona  número 20, ele observou que o ônibus ia aos poucos  ficando lotado e viu um grupo de amigos alcoolizados a discutir sobre futebol.
Riam e falavam muito alto.
Uns outros conseguiram acomodação, mas quatro deles ficaram em pé no corredor do ônibus.
-Rapaz, o Vitória brocou ontem no Barradão! - berrou um dos que estavam sentados.
-Passar pelo ABC é fácil... Meu Bahia meteu foi a zorra no Fortaleza! - falou um dos que estavam em pé.
Um outro, enquanto bebia uma lata de cerveja quente, falou com certo ar irônico:
-Calem a boca cambada de corno manso e parem de falar desses times de merda, o verdão é quem broca!
 Todos começaram a rir com a situação, abraçando e bebendo a cevada até que um outro infeliz, ainda rindo, berrou:
-Olha a zoada rebanho de viado mole!
Todos pararam de rir e olharam feio para o sujeito que continuava rindo.
Um deles berrou:
-Viado é você e o seu pai, seu fí dí quenga rapariguêra!
Vendo a alegria  se esvair , quando o ônibus chegou à rodoviária da cidade vizinha, fizeram o sujeito descer do ônibus sob vaias, latinhas e xingamentos.
No corredor do ônibus ouvia-se uma agitação maior do grupo. Dentre tantas baboseiras, uma frase soou mais alta das demais:
-Cabra descarado!  Precisa aprender a respeitar um cara hômí.


Talbert Igor

terça-feira, 23 de julho de 2013

PLURAL




Contra-ataque maciço à célula nervosa
Somos e enferrujamos, meu camarada
Saltamos entre a curva e o dedo da estrada
Contamos os ruídos dessa fonte fervorosa.

Abre-se a porta cadente do signo,
da psicologia e silêncio que abraçaste
Tu, que da vontade foi um ser digno
Parede imaginada em cálcio e traste.

Olhar estagnado entre curvas de Safo
Ilha fluindo em mares de suas retinas
Musas de nudez, gosto e agrado
Deusa prateada entre adoração de fulô meninas.

Aos poucos perdeste os momentos plácidos
de narrativa em compasso túrbido.
Eco em cantiga de asas dum alvorecer nostálgico,
Acendendo os incensos para ascensão noturna:
"Porque o que amadurece plenamente pode apodrecer."





              Talbert Igor





sábado, 6 de julho de 2013

223 – 11



Monstro da planície em pelagem e musgo
Superfície reluzente de cobre nas junções
Sossego cuspido em olheira vivente do vulgo
Frase sociopata de vidro marcando orações.

Trabalha com semelhantes de osso
Caminha entre as manadas de ar avarento
Suga, observando as partes que emergem do fosso
No arado do dia, nas pás de vento.

Engenhoso nos fios e aparelhagem
Na solda placa trincada em prata
Fusível ligado às molas de aprendizagem
Neurônio fulgente de falaz autocrata.

Mandrião cravado no onze de fevereiro
Curvado ao traço de um 23 patriarca
Selo amargo de uma geração foi o primeiro
Raiz escura que atravessa a barca,
Loki em capa promessada de menino engenhoso.

               

                                Talbert Igor


sábado, 29 de junho de 2013

FIANDEIRA



Fiando cantigas e gerações
Tecendo peças de murmúrios
Anfíbio que surge em paredes gélidas
Aracnídeo solto no tempo engrenado.

Escapou as extremidades da seda
Viu o homem perder seus fios de sede
Pios de ave aos cantos acuados
Sentiu, suou, saiu, em si, sentou-se.

Globo negro esvaindo palidez na ponta dos dedos
Saliva a vontade e desejos
Agulhas em poros e cabelos
O corpo sereno no cansaço de algodão alumiado.

Lamparina ao fundo dos olhos matriarcas
Lunetas refletidas em emoções de máquinas
Lira das semanas em passadas enraizadas
Silêncio comungado em teto peçonhento.



                       Talbert Igor 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

EPÍGRAFE


Escale, ó grande elefante branco!

O amargo do vento
A cara sem vida,
O olho agoniado
A convulsão de massa
E as poucas palavras.

Veja,  ó pé de concreto histórico!

Psicografia das margens.
Desabafos em paralisias
Silêncio conjugado
Disfarces repetidos
Odor da própria carniçaria.

Cale-se diante da paisagem, ó cacto central!

Sabendo a estória do comboio de corda,
O rastro lento é agressivo.
Entre passadas arrastadas,
Mostra-se interesse em poeira
Na espera doentia de um quasar.

-É interessante o desejo que possuis em desgraças familiares.


Talbert Igor

quarta-feira, 22 de maio de 2013

ORÁCULO ATEMPORAL




Parafuso de cabelos negros
Percorrendo tabuleiros em areais da caatinga
Saia de menina dançando ao vento,
E o vento beijando o negro das ondas.

Mourão de candeia  a guardar calmarias de laranjeiras
Aves raras pairando sobre nuvens de minha infância
Porteiras em rodopios folheados aos corredores
E o corredor da memória me escapando outra vez.

Náufragos matemáticos em paredes escolares
Terra ao acalanto de pés descalços
Surras, futebol, montaria e palidez
Visão sobre montes de cascalhos galopa.

O sol morre aos cantos do curral
Enquanto vacas mugem  sobre licuris e cajazeiras;
Assim surge o lampião em verticais de taipa
E o vento silencia em madrugadas estreladas.

     

Talbert Igor


terça-feira, 14 de maio de 2013

RESSACA


Conjugo os segundos do dia
Perdendo os detalhes neurais das ruas
E a distração corre em olho nu.
Componho  silêncio da ação;
Posso ver dedos mutilados
Esquecendo o propósito de palavras frias.
Lembranças elevam-se a chumbo
Enquanto a chuva castiga telhados
Liquidificando o vento de tapeçarias.
Quando paro em calçadas
Posso ouvir de bocas oriundas:
-Um homem é tudo aquilo que ele conseguir absorver.
In iterum risit madcap.
Talbert Igor

domingo, 21 de abril de 2013

SYD BARRETT - THE MADCAP LAUGHS (Um álbum artesanal e clássico)



(A minha preferida "Dark Globe").

.


                                             (Syd Barrett - The Madcap Laughs, álbum completo.)



A CASA DO MEIO


Eu conheço um  homem moribundo
Seus olhos pulsam ao quente termal
Na penumbra dum corpo intumescido.
Acendendo seu cigarro compulsivo e distribuindo contradições
Ele apanha a garrafa de conhaque barato,
Caminhando para seu repouso esticado sobre duas estacas secas.
O som do rádio conta os aboios,
A manguaça de chocalhos sobre a terra.
Eis que ele distribui ordem
Uma após a outra
E quando se cansa das esferas
Ascende um outro tanto de palha.
É o senhor de sua desgraça
E suas ações resumem-se ao líquido,
Saliva, suor, sangue e álcool.
Eu conheço um homem moribundo
E essas palavras foram tão tolas
Quanto as suas ações.

 
              Talbert Igor

terça-feira, 16 de abril de 2013

VAPOR


Calos nos dedos e a fumaça sobe amarela lunática.
Descobri o poder das vírgulas,
Homens moribundos com olhares de caboclos
Rondando as esquinas em paralelepípedos.
Já fiz do resquício um traçado ao passado
E as retinas desses corpos sequem rotineiros.
Não espero que entendam tais baboseiras,
Mas que ao menos achem algum significado
Em letras e ares regionais.
Esvoaçando alguns passos de ideias,
O dia sobe avançando os quarteirões
E a terra sobe seca com o vento acinzentado
Enquanto eu observo nuvens através da janela do quarto
As figuras surgem em forma homogênea
Visando os indicadores da palma da mão.



Talbert Igor

sexta-feira, 5 de abril de 2013

BUCHANAN DE BODE (Uma Mangaba no Meu Pé de Sonho)




Não gosto de buchada, quiabo, maxixe e seus derivados.
O visgo do verde ao molho das vísceras com o desdém colorido,
Gosto do ouvido e os trovões que ele Clapton.
As palhas do coqueiro quando o vento dá
Ao silêncio dos umbuzeiros na caatinga pontalense.
Sexteto em cordas e mangueiras,
Telecaster do Buchanan aos 120 baixos de estradas do Gonzaga.
Sombra de algaroba espalhando espinhos de quixabeira escura,
Ladeiras e cruzeiro de massapé.
Folhas de velande repousando em galhos de cansanção,
Suco de mangaba ao blues de um dia cortante.


Talbert Igor

segunda-feira, 1 de abril de 2013

UM SALIERI A MAIS NA MADRUGADA SOTEROPOLITANA





A base de café e pulsando seus efeitos energéticos

Adentro a noite com certo espírito Salieristico

De quem observa as cenas, calado.

Armstrong trabalha seu som na quietude de uma noite dominical

Passo do Wonder ao calor em ar abafado

Chopin da à sobra do nono- último prego em Mi bemol

E a madrugada ressoa ao clássico.

Um Antonio com a demagogia gasta,

Palavras e olhares engaiolados por um córtex de olheiras

Mefistofélico Paganini corroendo as construções em Dó menor

Aracnodactilia cuspindo aos dedos, violino e as graças de Marfan. 

Amadeus ao desprezo de quadros parados

Sonata ao luar morto desse céu poluído

O relógio corre às três da manhã em ode à alegria.

A alvorada é doce e silenciosa

Enxergo aos olhos mortuários de Salieri

Canso-me de tantas bobagens recolhendo a carcaça.

Enquanto as aves despertam o astro,

Ravel e seu Bolero contam a história do fim do mundo.




Talbert Igor


domingo, 17 de março de 2013

O VÔMITO DO GATO




O gato vomita satisfações em lã, pelos e lambidos de vaidade
Em movéis acostumados com arranhões, cochilos e miados.
O felino é autossuficiente e descansa garras em plumas
Faz coisas improváveis só para ver a desordem dos cômodos.
Os músculos quebram conceitos afinando definições,
Seus ares correm por telhados e muros velhos
Passando por aquela rua com cheiro de flores de cemitério.
Aos cantos, esperam a zabumba, sinos, fitas em busílis.
Cortando o silêncio da noite, voltando-se para retinas
Olhos aguçados ao preto do velho Edgar
E os gatos com miados de vidas, vomitando nebulosas binárias.


     
  Talbert Igor

segunda-feira, 11 de março de 2013

ZARATUSTRA ENCONTRA BRUNNUSDOVAR



Em prados noturnos Zaratustra distribuía pegadas
Fitando montes entre morros dos homens
A fonte de serpentes na sombra dos seus animais pairava.

Zaratustra parava em cantos para saciar a fome de mito milenar.

Das moitas de mato Zaratustra ouviu a voz amaldiçoar em olho de tempestade.
Das estradas e do frio sedento dos mortuários ao cortar o ar,
Olhando para a figura encolhida, Zaratustra observou a sanidade.

Encostado às rochas, ria sozinho o rancoroso Brunnusdovar.

Zaratustra fitou o homem com palavras de orações e aspecto.
A terra ouvia cantando para toda cidade penosa
Sua águia lançou uma pinha e fez um juramento
Jurando que o santo era o jumento.

Observando os animais naquela cena ociosa, ria o sábio Zaratustra.

Brunnusdovar vendo a ação dos animais,
Deixou seus ares tumbais,
Pôs a contar uma história sobre o astro decadente.

Já não se via mais tanta verdade sobre o céu da noite.

Zaratustra deixava a imagem sorridente,
Colocando a disposição do homem o ouvindo.
Brunnusdovar sentou-se lentamente e passou a contar o seu zumbido.

Morria de surdez o violeiro.

Brunnusdovar falava das correntes de vento e esperava conclusões dos seu males:
-Agora direi o que se passou em sonho.
Zaratustra, cuspindo silêncio, concordou em ajudar ao homem.
Então ouviu-se a história:
Acordes alucinaram por noite, aniversário e entranhas da caatinga.
Os passos e voltas esqueciam discussões vagas e no final amanheciam acordados.
Um dos homens cuspiu baixo ao outro – Me sinto uma montanha!
Um dos irmãos foi encontrado na praça central da cidade e junto a ele pedais de estradas arenosas, um blues vagabundo e rico de tão simples, um alcatrão e outra garrafa de leão do norte.
Zaratustra olhou para os lados e encontrou argumentos em uma lição improvisada que saltou das brisas de árvores.
Nesse ponto da história, Zaratustra interrompeu Brunnusdovar e falou:
-O significado de tal sonho está entre a ligação dos irmãos ao liquido de embriaguez e as lembranças solúveis das semanas. Não se esqueça da distorção das cordas do velho Di Giorgio. No som você encontrará o caminho dos ares.
Brunnusdovar calou-se por certo ponto digerindo as palavras e viu as respostas nas retinas da águia.
Zaratustra observando que ele já encontrava seus tesouros falou:
- Ainda permaneces calado. Continuas infeliz?
Abras os olhos e respire história!
Faças das tardes seu alimento e viva de madrugadas.
Os melhores pés caminham em estradas de noites nubladas.

       

                                   
Talbert Igor


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

BARRETT BICO DE PASSARINHO



Os males navegam por ondas entrelinhadas de ventos secos
zumbidos espalham-se em cantos de passarinhos.
As palavras levaram delírio e surdez ao meu ouvido direito
Torturas sonoras em tons consonantais.
O arco-visão dilatado por substâncias corrosivas
E dentro das semanas ainda é caçado por falsos sorrisos,
Os pés andam em caminhos reclusos
Desafiando aos dedos que apontam para o passado distorcido.
Entendo do açúcar e seus efeitos afiados que cortam o corpo
E entendo também do concreto das ruas.
Os anfíbios não ressecam a pele porque querem,
A brisa do entardecer rouba-lhes a quietude diária.
Enquanto o sol morre mais e mais além,
Tocam-se canções de frases derivadas da mesma matriz de ilusão.
Fecho as pálpebras e recolho o corpo indolente
Buscando a resistência entre penas e bicos de passarinhos,
Em pontos do céu se percebe o mais profundo colorido do Syd.


          Talbert Igor



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

TINTA FALHADA


Subo rapidamente as escadas chegando a porta do 301
Ligo a máquina e corro para o banheiro
Afim de descarregar a bexiga que durou lacrada uma tarde inteira.
As palavras do Word não vêem o dia passar,
Não possuem as mesmas entonações das orações que escrevo com canetas quebradas
E minhas Sinestesias não criam tanta vida nesse monitor.
Ao som do teclado, digito algumas frases
Clico o botão direito e  vejo a seleção para excluir.
Percebo que o meu velho amigo tinha razão:
-Um computador nunca terá o sabor de guardanapo, tinta, álcool e noite.


               Talbert Igor

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

CANÇÃO DE SENSAÇÃO



                                                             (Imagem Isadora Poulain)



Através dos ouvidos eu canto a canção das sensações.

Minhas mãos veem as ternuras dos movimentos desconhecidos
O amor é o doce e a leveza na brisa da tarde
Seus sinos levam-me aos ares dos sorrisos
Sinto que o perfume da vida me invade.

Através dos ouvidos eu canto a canção das sensações.

A sua beleza brilha adentro das escuridões de minhas retinas...
Reflete a dança dos sons hipnotizantes de belos passos
Viva menina de voz, corpo e compasso
Escuto seu bailado por entre as harpas dos ares.

Através dos ouvidos eu canto a canção das sensações.


                     Talbert Igor

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ERVILHA DA FANTASIA (1985) DOCUMENTÁRIO SOBRE PAULO LEMINSKI


"A VOCÊS, EU DEIXO O SONO.
O SONHO, NÃO!
ESTE EU MESMO CARREGO!"

PAULO LEMINSKI

Paulo Leminski -Ervilha da Fantasia (1985) - Documentário de Werner Schumann.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

CERTO PRIMATA



Um macaco adestrado,
Trancado em paredes de concreto
E que aprende as artimanhas de desviar em veículos.
Por entre encontros de chave, porta maçaneta,
Trinca palavras distribuídas em olhares
Mamífero velho e ranheta das esquinas e polegares.

Seguiu, Apertou a descarga, fazendo certo BAARUULHOOOooo... Via estórias em telas e pensamentos.
Pôs os olhos para a janela e viu um passarinho azul... Pegou sua fotográfica 360°.
Shiva em pena leve e a canção de Sarasvati invade o martelo da vizinhança.
-Macaco que pula muito leva chumbo...
Acho que um primata sabe quebrar o clima de vez em quando.
 
                 Talbert Igor


domingo, 13 de janeiro de 2013

MOCHO-DIABO (STRIGIFORMES 270º)


  


O reflexo de eco em líquido bizarro,
Explode lento em sentimento podre escuro
De piado em bico raso, carne e barro.
É a leve pena da Deusa mística de paladar noturno.

Filha e luz da rocha em globos oculares
Cabeça adivinha dos sinistros mistérios
Devora egos em rastro frios dos ares
Reina fina paciência de nuvens em critérios.

Silêncio de olhos que observam fina capa d´alma
Jogo doentio de instinto natural do além-breve.
Terra, grau e galhos em neblinas se atrevem,
Falam por calma em corpo estático.

Ave solitária dentro da predadora sofisticada
Chamam-te Strigiformes ó Mocho-Diabo alado.
Não precisas de falatório, planetária nem Muscarias,
Esticada entre tal bailado, o que tu fazias?
São os olhos que apenas observam calados.
                     

                     Talbert Igor

sábado, 12 de janeiro de 2013

PRECE DE BAR (TEMPLO DE UM MANDRIÃO)



Carreguem para além dessa portas mofadas e direcionem os cascos ao líder dessa taverna.
''Vê tais corpos sedentos a rastejarem por toda cidade?
São as células que precisam respirar malte e petiscar outros passos em calçadas.''
Espalhe o doce veneno aos servos do templo e terás criado um desabafo de liberdade.
Eis que surge o salivar alcoolizado! E como dizia o sábio pé-de-cana:
-São as pequenas doses! UP IHIP TZSSS... São as pequenas que nos animam.
Entre mesas e cantos, há sempre um baderneiro querendo à atenção de todo o resto.
A este, o trigo é um peso esmagador e traiçoeiro.
Um homem levanta o dedo e pede por primeiro:
-Ei garçom, mais uma cerva gelada!
O homem encorporado por um par de botas segura seu jarro de espuma e palitando os dentes escuta o outro bota cuspir:
-Zé, seu pudim de cachaça! Pare de beber!
-Um homem não pode ser feliz ao menos uma vez na vida? Quero viver meus momentos líquidos.  Berrou o homem.
''Ao menos se tivesse mais algum dinheiro...''     O homem  pensou e teve uma ideia.
-Ei Tonho?
-Diga meu compadre.
-Pode me emprestar vinte mangos?
-Mas você nem me pagou o do mês passado... Não me venha com conversa nem calote não!
-Vamos lá meu compadre. É só dessa vez... Preciso matar minha sede. Ninguém escapa desse calor.
-É o calor... Te empresto só dessa vez. Semana que vem quero tudo na minha mão.
-Claro que sim Tonho. Você sabe que mora no meu peito. É ou não é compadre?
-Hum...É, Tenho que ir.
-Ei garçom, traz mais, mais uma cerveja que essa parece que veio vazia. Não Ande tão desanimado meu caro garçom. Pra você e pra todos os senhores, um viva à malandragem!


             Talbert Igor