quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

NOVENTA E DOIS MENOS UM



Hábito, eu habito.
Ser hábil hoje,
Não havendo histeria
Na estória habitável dos homens.

Hálito, tu tens soprado pelos seis cantos de preces.
No escárnio de sombra flutuante,
Dos ventos oriundos de superfície cortada por hélices
Em mão cintilante de criatura operante.

Um, dois, três... Sinais
De tríade santíssima! Tu almeja em suspiro fervoroso,
Na progressão de passo religioso
No receio recorrente de pecados fatais.

Quando chega o arrebol de retinas afiadas
Em cálculo criador dum paladino opalino,
Meticulosamente em nimbus e guaritas passadas
No globo desatento dum menino.

Nos passos de metamorfose mefistofélica sucumbida
Sendo antropofágico sete vezes por semana,
Nas substâncias que atravessam fétida ferida
O verme oroboro da dignidade humana.

Para o vigésimo primeiro... Que pereça
Na geração errante! Que Dalí coloriu em verbo dantesco,
Os traços que marcaram todo um rosto grotesco
Até as eras augustas de quimeras que o homem mereça!





Talbert Igor

sábado, 14 de dezembro de 2013

MEMPHIS TOC, TOC



Era uma noite de quinta - feira, e na sala do apartamento ressoava uma seleção mista de blues acompanhada por improvisos desafinados de um Memphis maltrapilho.
O Israel, o cara do andar de baixo, ficou incomodado com as batidas da marcação 4/4 que o Memphis acompanhava com o pé esquerdo e começou a dar murros na parede.
Logo depois a mulher do tal Israel veio bater na porta do 301 dizendo que o marido precisava de silêncio:
-Olá vizinho. Poderia fazer menos barulho, por favor?
-Claro que sim. Me desculpe, boa noite.
Eram sete da noite de um típico sábado e o Israel parecia não entrar no clima dum som - meia boca  - decadente.




                     Talbert Igor


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

CADMO



Vomito a baía de todos os santos.
Nas vacas magras dos dias sujos
Nos apuros religiosos dessas aves tortas,
No praguejar cigano e andarilho
Através do trilho enferrujado do subúrbio soteropolitano,
Vomitando devoção por todos os santos.

Vomito a baía de todos os santos.
E, persistindo na memória, Deus não aparenta ser tão lúdico.
Pois nesta terra de tantas elevações contorcidas,
Os tambores cortam ruínas de ruas aterradas
Se repetindo no mandato de monarquia através de arestas,
Vomitando ares barrocos por todos os santos.

Vomito a baía de todos os santos.
A mazela contida no segmento da vida homogênea
Boca do inferno datado de colônia desprovida
Do condor em transitoriedade entre espumas flutuantes
Para ti, senhora dona Bahia - heterogênea de pranto,
Vomitando notáveis concretos por todos os santos.

Vomito a baía de todos os santos.
No farol que aponta incertezas de calçadas
Para cada dia do ano que tem um representante crucificado
Aos pontos de terreiros dos pretos velhos pescadores d´alma
A fumaça que sobe dos castiçais que Brotas remando,
Vomitando palavras amaldiçoadas por todos os santos.

Vomito a baía de todos os santos.
Aspiro ao misticismo dos olhares
Da mefistofélica guarita da vida
Restando a antropofagia da semana
No cume de crânios e na epifania de elevadores,
Vomitando a sombra cósmica de todos os santos.

Vomito a baía de todos os santos.
Na encruzilhada que oculta traços sob a praça do poeta
Que corta o traço alcoolizado de segredo erradicado
Que define a lei repetida por papila arrastada
Onde matéria se exprime trocando astros por círios,
Vomitando a acidez maculada de todos os santos.




Talbert Igor