terça-feira, 18 de dezembro de 2012

É UM DIA NOVO





Ele acordou às dez da manhã, ligou o aparelho e pôs pra tocar o Arnaldo Baptista.
Foi até a cozinha preparou o café, passou pelo pequeno corredor em direção à sala.
Sentia-se maior e mais maduro. Estufava o peito, engolia a poeira do apartamento e cuspia sua nova percepção de mundo. Seria mais um Loki?
Arrastou a cadeira e sentou-se. Logo voltou o olhar para a janela, cansou de tantas especulações. Nem bem se levantara da cadeira, a tia entrou toda animada pela porta.
-Parabéns!  - Disse a tia.
-Não vai falar nada?   Continuou ela.
-Ah sim, obrigado!      Ele respondeu meio desanimado.
-Quantos anos mesmo?
-Vinte...
-Adivinha o que eu trouxe pra você?
-Uma camisa?
-Não. Mas acho que você vai gostar...
A tia entregou um embrulho nas mãos dele, que parecia surpreso.
-Um livro do Leminski!  Gritou ele.
-É sim, você gosta desses loucos marginais, tal o bukowski né?  Perguntou a tia.
-Gosto sim! Muito obrigado! Falou ele cheio de sorrisos e olhos infantis como de quem ganha a primeira bicicleta.
Nem bem pegou o livro, sentou-se no chão e passou a folheá-lo. 
O tempo corria em minutos e ele fitava as primeiras páginas soltando risos contínuos com as estrofes.
A tia sentou na cadeira e ficou calada por um tempo observando a cena. Foi quando viu mais um riso e então falou baixinho:
-É um dia novo... Vinte anos ranzinzas por fora, Mas não passa de uma criança louca por dentro.

                  
                                   Talbert Igor

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

CASO PARA ELEFANTE RESOLVER




Seus sinos lúdicos perfuraram tímpanos de rostos belos
Apontando os fragmentos de leões idosos
Entre negros fios desce a moral dos duelos
Por vinho e punhal sangra a carne dos ossos.

Ó coágulos de minha cabeça!
Suas regras pedem liberdade desses corredores,
Assim dos ventos transcendem todas as dores
Das espadas de Roma pedem que esqueças.

Tríade de patas em prado do sul
Movimentam águas que transbordam do atlântico
Ó peso das lembranças de bramidos dos cânticos
Dum efervescente elefante de marfim azulado.

Tromba em disparo tal revólver alienado
Acerta líquido em músculos de cascas
É a casa de sombras em agudos de facas
Dum efervescente elefante de marfim azulado.

                   
                      Talbert Igor       

domingo, 16 de dezembro de 2012

DOCUMENTÁRIO

                                                               (IMAGEM ISADORA POULAIN)
      

                                

                                       ‘’O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente. ’’
                                                                                                                   (Mario Quintana)




Frase para agradar certa pessoa não é simples assim.
Palavras atrofiam,
Repetem-se por dias solúveis...
Verbos consumidos por substâncias.
O desejo linguístico floresce em cheiro de tinta fresca.
No céu, nuvens e estrelas brigam por um espaço em repouso.
Livros se calam e olhos falam quase nada do que sabem.
Rancores afetam todas as Bípedes cabeças
Mas os vilões são sempre braços vizinhos.
Certa pessoa não se importa com tal frase
Mas ainda permanece decompondo-se no ambiente
Mostra o efeito das sociedades decadentes
Fragmentos de matéria pensativa.
O sentido de criar documentário de um passado glorioso
Para um presente decadente é a moda das moedas.


               Talbert Igor

sábado, 15 de dezembro de 2012

O MAL DAS COUSAS SADLAMO






O mal da cabeça,
É sempre um ego levado a sério.
Passos de curvas e esquinas
Sangue que coagula violento
Põe novos ritmos para seus passos.
Santas e novas toxinas
Tudo reflete em retina do velho maestro.
Os males de todos os pés são as topadas desatentas,
Desatenta pupila que não percebe das riquezas em buracos calçados.



     Talbert Igor/ Thalles Nathan 16-12-2012

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

BRUNNUSDOVAR



                                                   (Imagem Isadora Poulain)
                        


Depois da voz trovoada de Brunnusdovar,
O céu transbordou compaixões.
Cuspiam-se pragas e nasciam lealdades,
 Os filhos da areia observavam calados.

Revoltos panos de chão
Não absorvem, apenas consomem o que é infinito.
Flores de pecados de um povo líquido,
Choram os filhos da perdição.

Avançou a ordem do podar de ramos.
Cérebros codificaram a criação do discurso
Arranca a oliveira que plantamos,
Em clara noite, Brunnusdovar traça mais um curso.

A chuva haverá de chegar!
E as nuvens espalharam-se,
Trancando seu ódio, demasia de rubras feridas,
Amaldiçoa o rancoroso Brunnusdovar.



Talbert Igor/ Thalles Nathan – 05/12/12

domingo, 9 de dezembro de 2012

LÉTRICO





Quando a morte nos vier de encontro,
Descansaremos aos pés e sombras de um licurizeiro.
Nós, os loucos, que andamos sem rumo por cidades inteiras.
Percorremos estradas descalças provando a liberdade dos ventos.
Nós, que ouvimos o tirano cuspir e maldizer que o jovem é um idoso com expectativa de vida.
Sim companheiro, somos nós.
Pondera seguir estações e paradas dos dias impostos?
Esses discursos desfazem nossa percepção de existência.
Não o siga em domingos silenciosos!
Nele estão as mazelas que todos os poetas sofreram.
Tu caro amigo, vive a vida de vagabundo hiperativo.
A vida que os pobres lentos tentam ter.
Tu és sombra inquieta,
Rabiscos em linhas de paredes mofadas.
Mais um neologismo de qualquer olho conhecido.



                            Talbert Igor

sábado, 8 de dezembro de 2012

DEZEMBRO




Acordo, e a força desse mês vem me receber.
Sopra-se sol e o aroma dessas plantas regionais.
Dezembro me alcança no caminho da escola e me atinge em uma mesa de falsidades natalinas.
- Ah, como eu o odeio!
Chegamos a fingir um ano inteiro em uma única noite, em uma mesa de sorrisos e gestos.
Sentimentos fabricados somente para aqueles instantes e depois desaparecem tal qual esse espírito que dizem existir.
- Oh bom velhinho da economia capitalista,
Traga alegria e conforto a todos os filhos que papai pedem a Noel.
É o mês das despedidas!
É o mês dos tolos, dos aniversários que não se comemoram e da estiagem final.
Seremos pequenos pontos da inútil resistência contra costumes de toda uma vida.
-Ah, como eu o adoro Dezembro.



                                                Talbert Igor




ORAÇÃO MATRIARCA




Lembranças eram palavras que nos atingiam com mais facilidade
Quando estávamos reunidos e dizíamos boa noite.
A cada indiferença de gestos que possuímos
E quando conjugamos verbos ofensivos,
Chegamos à vizinha prisão.
O relógio segue em atrito e conta o tempo que ainda resta.
Ó minha senhora de tantas forças e coragem!
Queria permitir ser.
Poderia abrandar tanta desgraça que nos cerca,
Dentre um e outro desentendimento.
Sim, faríamos um juramento!
Lançando aos ventos e para o restante da casa
E nossas vidas seguiriam simples e sinceros rumos.
Perderia o medo e os rancores de passos carentes
E tu poderias repetir alegremente palavras de afeto materno.

                 
                    Talbert Igor

domingo, 2 de dezembro de 2012

BAHIA DE TODOS OS PRANTOS





Enquanto a célula morre,
Há sempre a vontade de ser nômade nessas curvas e ladeiras
Onde prédios dão as costas aos barracos condenados.
Desde cedo, nenhum traçado patriota quis ser esquecido em terras estrangeiras,
Nem tampouco quisemos sofrer ironias dos opostos. Ironias da vida.
Qualquer sombra possui fantasmas em troncos, raízes e galhos que nascem de favelas e secam em muros de condomínios.
A morte alimenta ao sol e a terra é somente mais um  desatento olho.
Com o descaso das mãos governantes,
O metal enferrujado é a resposta dos esquecidos... Corpos provam sua lâmina.
As águas correm dos esgotos e o povo ainda se encanta com globos, retângulos e sons de motores.
Seus governantes possuem os pés e descansam em ''xanadu''.
Enquanto a célula morre,
O povo curte mais um carnaval.


               Talbert Igor

sábado, 1 de dezembro de 2012

VALE DOS RIOS 0914



No ônibus entravam sujeitos iguais a outros tantos sujeitos das passadas diárias.
No meio desses tantos, subiu aos degraus do ônibus um homenzinho. Este seguiu e sentou-se em um dos últimos bancos.
O homenzinho olhava pela janela os nomes dos edifícios e ria com as estranhezas e elevações.
Seguiram viagem e o ônibus fez mais uma parada. Duas mulheres subiram, foram andando pelo corredor e sentaram logo atrás do homenzinho, nos últimos dois bancos que restavam desocupados.
Rodas começaram a percorrer asfalto quente e as mulheres puseram-se a conversar.
Parando de olhar pela janela e retirando da maleta um caderno e uma caneta, o homenzinho parecia fazer anotações.
O fluxo do trânsito era intenso e o ônibus passou a andar lento. O homenzinho continuava a escrever, agora com muito mais calma e precisão.
As mulheres animaram-se e passaram a aumentar o tom de voz, riam e riam cada vez mais alto de modo que sempre alguma cabeça olhava feio e virava-se para traz.
O ônibus continuava lento, vez ou outra aumentava a velocidade. O homenzinho parou de fazer suas anotações e passou a observar a conversa das mulheres.
Elas falavam de fofocas, emprego, maridos, filhos e escola.
E revirando a bolsa, falou uma das mulheres:
- A escola faz muito bem ao meu pequeno!
Respondeu a outra mulher:
-Lembro-me de quando era pequena. Tinha um livro ilustrado que cada dia eu mudava a história. Não sabia ler direito, mas eu gostava sempre de folheá-lo. Seu cheiro era de massinha de modelar... Parece que foi ontem que senti seu cheiro passando por mim enquanto dormia.
A outra mulher olhou diferente para a amiga e disse:
-Que maluquice essa sua! hahahaha!! Cheiro de massinha de modelar? hahahaha.
''Mal sabia ela que falava poesia.''- Escreveu o homenzinho em seu caderno.
O homenzinho começou a rir e as mulheres, percebendo o riso, olharam feio para ele.
-Por que não cuida da sua vida seu enxerido? - Falou uma das mulheres.
O homenzinho parou de rir e voltou seu olhar para a janela do ônibus.
Uma das mulheres, observando as anotações dele no caderno, disse:
-Esqueça de nós e volte ao seu papel!
-Desculpe-me se pareci desagradável... Sou um poeta preguiçoso. - Respondeu o homenzinho.
 A outra reforçou o discurso:
-Por que escreve tantas asneiras?
Respondeu o homenzinho:
-Desculpe, não sei o porquê, apenas escrevo.


                     Talbert Igor