sábado, 24 de agosto de 2013

TAMAREIRA


Quando suas aves alcançam a luz no final da tarde
Posso ver o olhar - fruto - pitanga
Sorridente em charme cacheado.
Helena de escultura em mistura
Voo raso nas curvas de vestido e curiosidade.
Perfume leve de doce maracujá
E na flor demonstro ser seu maribondo.
Nada sei dos mistérios ocorridos
Mas ouso provar da cor e simbologia dos licores,
De seu globo negro convidativo em desvios tímidos
E da verdade nas coisas que desconheço:

O corpo,
               a plastificação
                                      e o sorriso.

Lyra em formação melódicas de pontos seguidos no céu
Alfa brilhante no rastro de anos-luz à Vega
Contradição e tríade de bípedes destros,
Ligação nos caninos de beleza rara.
Silêncio de mãos,
Na chuva fina de quintas gravadas ao cobre
Quando ousamos musicar na memória de outrora.
Assim, nas coincidências de sinais crucificados
E palavras no limbo de tinta, pena e bico
Esperando sua estória na sombra da tamareira
Ou em terças, nos traços do calendário.


                         

                                   Talbert Igor



quinta-feira, 22 de agosto de 2013

HÉCATE



Na lua dos sonhos,
Despencando através das encruzilhadas
No rastro de Cérbero,
No eco de espectro
Morrendo tal as previsões que tinha.
Morrendo surreal, inquieto,
Inesperado como num despertar de um apavorante pesadelo.
Morrendo como os cardumes dos pássaros e os rebanhos dos peixes.
Despertando toda utopia canina,
Cuspindo em toda matilha dos porcos miseráveis
Bastardos - moribundos de um destino parecido ao dele,
E o mal sendo a maior fonte de inspiração.
Serpentes sugando pulsação do pescoço
Tríade santíssima das cabeças em vilarejos
Nos mitos crescentes da face oculta
Para atenuar os fios fantásticos de Blake.



                     
                                            Talbert Igor


sábado, 10 de agosto de 2013

ALUMÍNIO


Estando na janela de um desses prédios antigos daquelas redondezas
Bem na janela do meio, 
Podem-se ver os pés sendo engolidos por calçadas idosas e por ruas agitadas.
Podem- se ver!
Os homens em seus detalhes despercebidos de rotinas.
Na feira, carregando caixas de verduras.
Em bares ou cuspindo no chão. 
Suas mulheres com olhares cozinhados para lojas,
Carregadas de crianças e verbos prontos para serem descarregados a qualquer momento.
Podem-se ver todas essas pessoas, 
Mas elas não podem ver muito além do que está próximo.
Passos do conhecido ao desconhecido de portas
Chegando ao túnel e depois o porto.
Outro homem foi atropelado juntamente com seu saco e alumínios.
Ainda um homem,
Vestido em sua pele escura 
E deixando adormecer todo seu instinto e revolta.
Às vezes esquecemos de que eles também são iguais a nós.
Alguns outros se aproximam criando uma grande massa
E essa engole aquela figura estendida no asfalto.
Mas acho que logo se cansaram do modelo.
Uns tantos outros caminham muito além com seus sacos e alumínios
Misturando-se aos concretos e automóveis 
Nos tamarineiros, nas sombras e nas massas de gente.
Nos becos e paralelepípedos,
Nas ladeiras dos nossos dias.



                         Talbert Igor