terça-feira, 26 de junho de 2012

SAUDADE DOCE CORROSIVA

                                                   (Imagem Isadora Poulain)



Saudade devastadora de um silêncio
Que de tão precioso,
Não se encontra em faces de dias, semanas perdidas.
Saudade devastadora de um perfume
De ondas dos cabelos, raro e bondoso peito.
Lembranças são doces e corrosivas
Levam-me ao delírio de uma agonia perigosa.
Por onde tu pisas e o que transforma em alegria?
Não se esqueça de rezar quando os dias forem chuvosos...
Sim, reze para o seu pobre diabo que se perde cada vez mais.
Que não cumpre seus atrapalhados minutos.
Segundos são de uma enorme lentidão...
Por onde seus olhos seguem agora?
Conte dos seus traçados, conte de você, conte-me através da imensidão do céu.
Sussurre através dos ventos que eu hei de te entender por nuvens passageiras.
A saudade permanece, minhas poucas direções, minha agonia corrosiva. 



                               Talbert Igor

segunda-feira, 25 de junho de 2012

CANÇÃO DE TRAVESSIA - TALBERT IGOR E RAFAEL VILANOVA




Música de Talber Igor e Rafael Vilanova

QUANDO SANTOS REALIZAVAM MILAGRES




                                              (imagem Vicente Sampaio)




Quando muitos peregrinavam e poucos guiavam fios de multidões,
A terra era a esperança compartilhada por esses pés descalços.
A estrada ofertava campos com sombras de nuvens pinceladas...
Relâmpagos eram ouvidos sabiamente por folhas de toda uma vegetação,
A chuva era sagrada e a crença iluminava as noites de incertezas ferozes,
Quando por entre todos os barros, santos realizavam milagres.
O peso de penas da Lavadeira misturava-se com a terra do bico do Cardeal,
A contradição do voar alaranjado do Sofrer e o ímpar raso do azulão,
Tudo isso se foi com o entardecer de galhos e rastros dessas tolas aves.
A procissão cortava o silêncio do povoado e os pés avançavam adentro a velha capela.
-Cortem as raízes e arranquem os parafusos! Berrava a boca.
-Porque esperaremos a ferrugem? Perguntava os desatentos ouvidos.
-Tudo isso é o que sempre fomos e não quebraremos as regras...  Suspirava o nariz.
Então corpo e partes criavam movimentos variados guiados por desgastadas velas.
Palavras e palavras de toda uma oração,
Línguas de línguas... Sábias e populares,
Olhos de olhos de raros analfabetos.
-Rezem e peçam por dias melhores. Ordenava o líder dos pés.
Voltavam à estrada e seguiam por entre as pedras de sentimento,
Entoavam frases compartilhadas e viam a mesma direção esperançosa...
Seguiam no tempo em que os santos realizavam milagres.


                               Talbert Igor

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O HOMEM QUE DEVORAVA POESIA



Vivia sempre provando vírgulas e crases, não que o fizesse por diversão, Mas às vezes devorava várias poesias de uma vez só.
Tão apressado que rasgava e moía frases inteiras, deixando as sobras de palavras caírem pela boca que seguia transbordada.
De vez em quando adorava devorar livros empoeirados de história mundial e para ajudar na digestão aspirava textos de filósofos famosos, mas preferia as palavras dos poetas mendigos.
Era um homem de poucas palavras e poucas eram as suas certezas.
Falava com um olhar pálido e misterioso, gritava pelos ouvidos e enxergava por sensações de bem-estar espiritual.
Certa vez o vi devorar frases de um poema embriagado...
Não se contentava e devorava outras páginas de um romance qualquer – Eu preciso esquecer esse maldito pesadelo! - Berrava o pobre homem.
-"Cof, Cof, cof"!
Seguia engasgando outra vez com interrogações,
Irritava-se e lançava exclamações em minha direção.
Parti daquele lugar, atendendo ao pedido daquele prefácio de ser que é o meu amigo.
Parti e a última coisa que pude ver foi o pobre homem cuspindo fora todas as suas reticências.




                                       Talbert Igor




                                            

sábado, 16 de junho de 2012

quarta-feira, 13 de junho de 2012

TESTAMENTO DE UM MENDIGO



                                         (Imagem Jonata Silva)



Eu, senhor dos restos e sobras alheias,
Deixo-vos com toda sinceridade, ensinamentos de tropeços e pegadas,
Dessas nossas ruas esburacadas,
A calçada que durante muito tempo me serviu de moradia.
Papelões, cobertores e sucatas.
O meu pobre cão, tão esquelético e raivoso...
A ardência dessas minhas entranhas famintas e vazias,
A mão necessitada que tu cuspias quando passavas apressando.
 As moedas que me lança e a indiferença com que me olhas,
Serei o monstro que criastes e aprendestes a odiar?
Devolverei os retalhos de bom-dia e as migalhas diárias,
Recorrendo aos blocos e carvões espalhados pelos cantos.
Escrevo palavras nesse muro condenado,
As palavras que ouvi de outra boca sedenta que eles sempre tapam...
Mas não é sempre assim que acordamos dos lampejos de conforto?
‘’Às vezes as rimas fogem,
Às vezes os versos nos escapam,
E sempre que olhamos para os lados...
Percebemos que a vida é um poema torto... ’’


          Talbert Igor

terça-feira, 5 de junho de 2012

STRADA AHPUCH -TALBERT IGOR E RAFAEL VILANOVA



*Música e desafinação de Talbert Igor.


Strada Ahpuch-Talbert Igor e Rafael Vilanova



(Intro: E, B7, A, E)
E B7 E
Não se incomode, com tudo que você possa ver.
B7 E
Umas são verdades e as outras não podem ser
A B7 E C#m
Seu olhar é quem vai dizer a direção
F#m B7 E
Siga a estrada e seus caminhos tortos sem perguntar por quê.
B7 A E
Mas porque os velhos pés não obedecem e saem do chão? (3x)
E B7 E B7 E
Frutos podres você irá provar, não se vicie, pois o melhor ainda virá.
A B7 E C#m F#m B7 E
Virá basta querer encontrar o que está bem perto de você
B7 A E
Mas por que os velhos pés não obedecem e saem do chão? (3x)

sábado, 2 de junho de 2012

VERA CRUZ





Essa será a última fogueira de são João
A última visita aos velhos camaradas,
O encontro de licores numa estrada  noturna,
O último acanhamento no inquieto peito junino.

Das lembranças na memória,
Hei de voltar aos tempos de infância
De ser mais um rumoroso menino
Com a ânsia de sonhar, poder imaginar o que terei.

Hei de poder com a fumaça e as cinzas,
Contra a ranzinza dos velhos tolos e do velho cão.
Com os delírios dessa carcaça, buscarei na fantasia d’alma,
Observarei quieto, essa que será a última fogueira de são João.


                    

                            Talbert Igor