Vivia sempre provando vírgulas e crases, não que o fizesse
por diversão, Mas às vezes devorava várias poesias de uma vez só.
Tão apressado que rasgava e moía frases inteiras, deixando
as sobras de palavras caírem pela boca que seguia transbordada.
De vez em quando adorava devorar livros empoeirados de
história mundial e para ajudar na digestão aspirava textos de filósofos
famosos, mas preferia as palavras dos poetas mendigos.
Era um homem de poucas palavras e poucas eram as suas
certezas.
Falava com um olhar pálido e misterioso, gritava pelos
ouvidos e enxergava por sensações de bem-estar espiritual.
Certa vez o vi devorar frases de um poema embriagado...
Não se contentava e devorava outras páginas de um romance
qualquer – Eu preciso esquecer esse maldito pesadelo! - Berrava o pobre
homem.
-"Cof, Cof, cof"!
Seguia engasgando outra vez com interrogações,
Irritava-se e lançava exclamações em minha direção.
Parti daquele lugar, atendendo ao pedido daquele prefácio de
ser que é o meu amigo.
Parti e a última coisa que pude ver foi o pobre homem
cuspindo fora todas as suas reticências.
Talbert Igor
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