terça-feira, 29 de setembro de 2015

GRILOS DO ITAPICURU





As piabas deslizam suaves em plena corrente
Da pedra grande de superfície musguenta
E o homem com chapéu de palha se lamenta
Por não capturá-las em seu aió recorrente.

O itapicuru que se estende por terras cipoenses
Reflete as mazelas dos que são explorados
Como o povo que ainda vive de pequenos bocados
Dos cabrestos da política panis et circenses.

Pobre de ti, ó rio de forma caudalosa
Desde a nascente que corre em curvas de s
Essa gente que não se importa e até se esquece
Apenas saqueiam suas areias de forma assombrosa.

Na parte mergulhada das suas águas impuras se esconde
Amontoados de aventureiros em banhos arriscados
Sob a sujeira que segue dos esgotos desgovernados
Que vem viajando desde Jacobina até a cidade do Conde.

Extingue-se a cada vez que subtraem a fauna-flora
E vives com uma pequena fatia de momento afetuoso
Pois nesse tempo com estridulação de grilo jocoso
Restou-te apenas a erosão que o seu solo devora.



Talbert Igor

sábado, 26 de setembro de 2015

CAMAÇARI: AQUI, ALÍ, ACOLÁ


Hoje,
a chuva 
crava 
chuviscos
chamativos
na alva memória
do teto de tua cabeça.

As tetas daquela moça
seguem atravessando a calçada,
sob a vigia de negros lupinos
e sob a proteção dum guarda-chuva
esverdeado.

Aquele outro cara,
abaixa a guarda
e um outro cara
lhe rouba a carteira.

Não existe calma,
alma,
amálgama,
ébano,
albino,
Albertos
nas ruas de Camaçari.

As coisas calorosas não existem nesse lugar,
pois as aves que aqui te bicam
jamais te bicaram acolá
(no interior das suas vontades).

A cama de Sarah o possuiu com uma acidez estranha
e os agrados de Ana,
enraizaram a realidade desse velho.

Sim, o mesmo degastado palhaço!

Seguindo por todos os lugares
e insistindo em ter o mesmo ar possuidor das cousas.

Almeja, como todas as pessoas desesperadas
acostumado a atirar-se em qualquer migalha.

Claro que sim, repetido mendigo!

Atravessas os dias entre os automóveis de Camaçari:
- ô boiada azul,
êita passada larga,
ê vontade reprimida.

Sonhas com:
1- lavadeiras e chapéus de palha.
2- caboclos quebrando cascalhos.
3- senhoras de lenços rezando novenas.
4- meninos bebendo água em pote de barro.

As persianas daquela janela soturna
escondiam os olhos curiosos da dona Veridiana.

A pele da Nelma inflama,
o berro vizinho lhe arranha,
a íris te chama
e, esquecido pelos próprios sonhos,
você segue esticado
num quarto dessa cidade
que não lhe agrada em nada.



Talbert Igor