sábado, 26 de setembro de 2015

CAMAÇARI: AQUI, ALÍ, ACOLÁ


Hoje,
a chuva 
crava 
chuviscos
chamativos
na alva memória
do teto de tua cabeça.

As tetas daquela moça
seguem atravessando a calçada,
sob a vigia de negros lupinos
e sob a proteção dum guarda-chuva
esverdeado.

Aquele outro cara,
abaixa a guarda
e um outro cara
lhe rouba a carteira.

Não existe calma,
alma,
amálgama,
ébano,
albino,
Albertos
nas ruas de Camaçari.

As coisas calorosas não existem nesse lugar,
pois as aves que aqui te bicam
jamais te bicaram acolá
(no interior das suas vontades).

A cama de Sarah o possuiu com uma acidez estranha
e os agrados de Ana,
enraizaram a realidade desse velho.

Sim, o mesmo degastado palhaço!

Seguindo por todos os lugares
e insistindo em ter o mesmo ar possuidor das cousas.

Almeja, como todas as pessoas desesperadas
acostumado a atirar-se em qualquer migalha.

Claro que sim, repetido mendigo!

Atravessas os dias entre os automóveis de Camaçari:
- ô boiada azul,
êita passada larga,
ê vontade reprimida.

Sonhas com:
1- lavadeiras e chapéus de palha.
2- caboclos quebrando cascalhos.
3- senhoras de lenços rezando novenas.
4- meninos bebendo água em pote de barro.

As persianas daquela janela soturna
escondiam os olhos curiosos da dona Veridiana.

A pele da Nelma inflama,
o berro vizinho lhe arranha,
a íris te chama
e, esquecido pelos próprios sonhos,
você segue esticado
num quarto dessa cidade
que não lhe agrada em nada.



Talbert Igor

Nenhum comentário:

Postar um comentário