segunda-feira, 17 de setembro de 2012

INTERROGAÇÃO À SARASWATI ¿


                                                             
                                                             (Imagem Isadora Poulain)                                                              

Por que me olhas tão cegamente mulher que cria rabiscos?
Por que lanças linhas de grafites em páginas amareladas
Desviando movimentos desses círculos perdidos?
Volte como sinal desses olhos, oh saraswati!
Não aponte para os erros,
A incerteza pode ser a certeza do inesperado.
Os pequenos e valorosos sinais da vida
 São percebidos na grandeza de desprezíveis rotinas.
Troque as terças do penoso calendário
Enforque mais um dia de sol empoeirado...
Sugue aquilo que quase nunca se demonstra ser,
Silêncio em  palavras são como cores pra se ver...
És a luz que se mostra através de singelos traçados.


                          Talbert Igor

domingo, 9 de setembro de 2012

PAI E FILHO




Era uma junina manhã de sábado quando o menino partia com o pai numa motocicleta estrada adentro. Logo os buracos causaram-lhes problemas e o pai aproveitava, parando em vários trechos e retirando da sacola um cantil.
Licor para saborear...
O menino entregava o cantil ao pai que ia aos poucos se embriagando. Não por motivo de alegria, mas por vontade de esquecer sua miserável vida.
Para o infortúnio de ambos começava a chover. A estrada deslizava sua enorme vegetação e o céu cuspia pragas em forma de pingos aos aventureiros. Pararam numa casa que ao menino soava familiar. Era a casa da pequena bastarda que ouvia calada promessas paternas de um exímio devasso. O pai jurava e retirava dos bolsos frases feitas para o ludibrio perfeito. Mas de nada adiantou, a pequena logo expulsava de sua moradia, pai e filho.
O pai consumia cada vez mais e a motocicleta acompanhava o seu entusiasmo com manobras ariscadas. O filho temia e querendo fazer tudo não conseguia nada, logo gritou ao pai:
-Meu pai, o senhor não pode mais pilotar. Não deverias misturar o liquido com o sólido!
E o pai chateado respondia com voz e soluços:
-Calma que estamos chegando ao velho covão!..
Voltaram à estrada e o pai nesse momento já estava completamente embriagado. Foi quando num reflexo retardado exclamou delirante:
-Segure-se filho!
O menino apenas fechou, apertando rapidamente os olhos, e em segundos ambos chocaram-se contra um enorme barranco. A motocicleta encontrava-se no centro da estrada, o pai estirado junto às pedras de lama, o filho sangrando palavras de arrependimento com a roupa rasgada sobre a perna ensangüentada e o braço inchado. Depois de minutos, recuperado e com excessiva vontade de chegar ao destino final, o pai resolveu acalmar a tensão recorrendo ao cantil de licor. Mas quando se virou levou outro susto, vendo o filho abalado a esvaziar o seu precioso liquido garganta adentro. Logo ambos se olharam por segundos e riram da própria morte. O filho falou sorrindo:
-Maracujá. Meu sabor predileto!
Levantaram a motocicleta e continuaram o percurso sobre a chuva fria da noite, e quando os ventos permitiram-lhe falar o pai comentou ao filho:
-precisamos chegar logo, Pois o seu tio nos espera há semanas na velha fazenda.
O filho sorriu mais uma vez vendo um boteco aberto em um cruzamento da estrada. O pai parecia ter lido seus pensamentos, pois a motocicleta seguia a visão do filho que gritava aos ventos:
-Precisamos nos aquecer mais uma vez!.



       
                                                  Talbert Igor

sábado, 8 de setembro de 2012

O VELHO RANHETA

                                                         
                                                            (Imagem Isadora Poulain)



O velho ranheta ecos da esquina
Do ébrio mandrião, do mecanismo que o subestima.
Pelo infortúnio introduz a ilusão...
O epílogo da rotina o deixa cego.
O velho ranheta o ganho,
Ganho irrisório de uma noite qualquer.
Cartas perdidas afetam o ego,
Engolem dilemas soprando tristezas.
E o que tenho velho homem
É pouco demais para oferecer...
Em mente calham tempestades, dito velho perneta.
 Notórias perturbações d’alma solitária
Ataque lento, sereno.
Dito sempre velho homem ranheta.


                     Talbert Igor


                   

                                                   

terça-feira, 4 de setembro de 2012

AGONIA


                                                          (Imagem Isadora Poulain)

Hoje, mais um dia
E esse sentimento que não me escapa.
A mordaça que me aflige,
É um mero detalhe dentre tantos outros...
As paredes contradizem meras palavras pagãs,
São fatos e mais fatos de um contínuo fracasso.
Que caiam os dentes!
E sobre o telhado pragas do sul.

A displicência desvia-me o caminho.

Por perto, o algoz organiza a carnificina
E observa-me com um olhar cru.
Hoje à noite, descansarei na escuridão das ruas vazias;
Escutarei o latir solitário dos pobres cães
Vagarei rente a contramão.
Por fim, sugo do ar a necessária inspiração,
Devoro as palavras e calo o inquieto coração.




                       Talbert Igor