quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

UMA PAUSA NO PASSO


Degraus movimentados surgem em bola matinal
Na matéria que desfila sob roda em ferrolho
Que engole, cuspindo pessoas em ponto cardeal
Do tinto em azia ao silêncio escuro do olho.

Fazer-se titã por sobre essa rua de adeus
Desviar dos restos moribundos que chiam e vagam
Que espalhados, rastejam às vielas e propagam,
O fogo amargo dos filhos de Prometheus.

Pois são longas as escadarias no templo de Zeus
Que o tempo da escuridão na mente humana,
Origina a anárquica ideia de desafiar a eternidade
Clareando as cousas por orações augustinianas.

Ser um misto da escória lusitana
No composto que resulta num planetário território,
Colorido - pálido - vencido e aleatório
Sob o céu escarlate dos heróis tupinambás.





Talbert Igor

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

TERÇA E QUINTA



Ele a viu chegar e viu também os seus globos negros assim que ela surgiu em sua frente. Sentia uma necessidade em poder falar com ela.  E ele chegou perto e começou a pronunciar:

"Se te queres tanto a felicidade,
Por que andas a planejar dias incertos, ó moça de terras além-rios?!
Consegues sonhar tendo tão pouco
E sendo sobrenatural na maneira como enxerga o homem.
Sonhar assim não deve ser tão mal como dizem.
O pior mesmo é não conseguir nada, nem ao menos um lampejo de sonho..."

Ela interrompeu com certo ar de quem não gostou e precisa mudar de assunto:
-Conte um segredo...
-Um segredo?!    - disse ele assustado
-Isso mesmo. Vamos lá, tá tudo bem.
Ele contou para ela a estória do homenzinho que quase chegara a um acordo com o tinhoso quando tinha cerca de doze para treze anos.
Ela riu, e fitando seus olhos negros em sua direção, indagou:
-Qual teria sido o motivo para tal negócio?
Ele retribuiu  com um  riso amarelado e respondeu que deveria ser por alguma aposta infantil do dia a dia.
- Oxe, e essas coisas se dão por motivos assim, nesses níveis?   - perguntou ela
-De vez em quando..       - disse ele
-Hum...   -  ela continuou fitando, com seus globos negros, o pobre rapaz. Ao menos puderam conversar.





Talbert igor





domingo, 12 de janeiro de 2014

JOÃO DÔGA, O DEVOTO



Há sempre alguém que se destaca mais no meio do bando. Esse alguém tem uma mania que é uma um tanto mais estranha do que a dos outros. Não há prova o suficiente para mostrar se isso realmente aconteceu, mas o causo é que o João Dôga em toda festa da padroeira é o primeiro da fila.
Na festa da padroeira da cidade, João Dôga ajudara desde os primeiros raios matinais, como era de costume, a organizar a festa na igreja que acontecia na missa da noite. Carregava enfeites e tirava a poeira das imagens de santos, sempre fazendo reverência a São Pedro toda vez que passava pelo altar.
A noite finalmente chegara anunciando a hora da celebração para o povo que esperava ansioso. João Dôga foi uns dos primeiros da imensa multidão que preenchia os espaços da igreja, e logo que se sentou no banco de madeira, fitou em especial uma pequena cesta bem abaixo da imagem de São Pedro. Fitava e analisava como quem tinha planejado algo há algum tempo.
Logo o padre dava inicio ao ritual religioso. João Dôga rezava e cantava as músicas com um grande fervor que impressionava. Um amigo vendo aquela agitação chegou perto de seu ouvido e cochichou baixinho: “- Se você continuar rezando assim é capaz de que quando você chegar ao céu São Pedro abra as portas sem demora para que possas entrar!”.
João Dôga ria com o comentário do amigo e ouvindo o padre chamar os fiéis para poderem ofertar seus dízimos, reagiu, e em um movimento robótico, levantou- se do banco, seguiu firme a enorme fila para o altar.
Quando finalmente chegou a sua vez de ofertar, João Dôga ajoelhou-se frente à imagem de São Pedro e pronunciou por alguns segundos em voz alta para que todos ouvissem as suas palavras de fé. Foi quando a multidão na fila já estava impaciente, uma velha senhora cutucou seu ombro, pedindo para que ele desse o espaço para outra pessoa ofertar, pois a fila estava grande. João Dôga colocou a mão no bolso, pegou a sua oferta e já ia depositando sua quantia na cesta quando se virou para a senhora e ao mesmo tempo em que virou a cabeça sacou da cesta, em um golpe rápido e calculado, várias notas de dinheiro que foram para o seu bolso em um movimento uniforme. Ninguém notou o seu movimento com as notas.
João Dôga desceu do altar com um sorriso amarelo e logo depois voltou para o seu lugar no banco de madeira. Nem bem sentara, o amigo voltava a cochicharão em seu ouvido: “- O que você pedia de tão importante para ter demorado tanto?”.
João Dôga não demorou muito na resposta e disse com o mesmo sorriso amarelado:
-Pedia a São Pedro que quando eu morrer que ele me deixasse entrar no céu sem demora.



Talbert Igor

sábado, 11 de janeiro de 2014

CATA - VENTO




Quis dobrar a força dos tempos
Pra voltar àqueles dias em que o deus Cronos era nosso amigo.
Fiz valer a força empregada no querer
Dos meus meses, semanas e domingos
Agora o tempo é uma passagem
E os anos vestem velhos vestidos
De meus medos dos fantasmas
Remorsos antigos.
De nada adiantou lutar por frases
Do meu verso, do passado, o passado esquecido
O cata-vento segue lentamente o seu caminho revirando
O que deixamos por debaixo do tapete
Agora o tempo é uma passagem
E os anos vestem velhos vestidos
De meus medos dos fantasmas
Remorsos antigos.




Talbert Igor, Thalles Nathan / 2011