segunda-feira, 25 de junho de 2012

QUANDO SANTOS REALIZAVAM MILAGRES




                                              (imagem Vicente Sampaio)




Quando muitos peregrinavam e poucos guiavam fios de multidões,
A terra era a esperança compartilhada por esses pés descalços.
A estrada ofertava campos com sombras de nuvens pinceladas...
Relâmpagos eram ouvidos sabiamente por folhas de toda uma vegetação,
A chuva era sagrada e a crença iluminava as noites de incertezas ferozes,
Quando por entre todos os barros, santos realizavam milagres.
O peso de penas da Lavadeira misturava-se com a terra do bico do Cardeal,
A contradição do voar alaranjado do Sofrer e o ímpar raso do azulão,
Tudo isso se foi com o entardecer de galhos e rastros dessas tolas aves.
A procissão cortava o silêncio do povoado e os pés avançavam adentro a velha capela.
-Cortem as raízes e arranquem os parafusos! Berrava a boca.
-Porque esperaremos a ferrugem? Perguntava os desatentos ouvidos.
-Tudo isso é o que sempre fomos e não quebraremos as regras...  Suspirava o nariz.
Então corpo e partes criavam movimentos variados guiados por desgastadas velas.
Palavras e palavras de toda uma oração,
Línguas de línguas... Sábias e populares,
Olhos de olhos de raros analfabetos.
-Rezem e peçam por dias melhores. Ordenava o líder dos pés.
Voltavam à estrada e seguiam por entre as pedras de sentimento,
Entoavam frases compartilhadas e viam a mesma direção esperançosa...
Seguiam no tempo em que os santos realizavam milagres.


                               Talbert Igor

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