sábado, 1 de dezembro de 2012

VALE DOS RIOS 0914



No ônibus entravam sujeitos iguais a outros tantos sujeitos das passadas diárias.
No meio desses tantos, subiu aos degraus do ônibus um homenzinho. Este seguiu e sentou-se em um dos últimos bancos.
O homenzinho olhava pela janela os nomes dos edifícios e ria com as estranhezas e elevações.
Seguiram viagem e o ônibus fez mais uma parada. Duas mulheres subiram, foram andando pelo corredor e sentaram logo atrás do homenzinho, nos últimos dois bancos que restavam desocupados.
Rodas começaram a percorrer asfalto quente e as mulheres puseram-se a conversar.
Parando de olhar pela janela e retirando da maleta um caderno e uma caneta, o homenzinho parecia fazer anotações.
O fluxo do trânsito era intenso e o ônibus passou a andar lento. O homenzinho continuava a escrever, agora com muito mais calma e precisão.
As mulheres animaram-se e passaram a aumentar o tom de voz, riam e riam cada vez mais alto de modo que sempre alguma cabeça olhava feio e virava-se para traz.
O ônibus continuava lento, vez ou outra aumentava a velocidade. O homenzinho parou de fazer suas anotações e passou a observar a conversa das mulheres.
Elas falavam de fofocas, emprego, maridos, filhos e escola.
E revirando a bolsa, falou uma das mulheres:
- A escola faz muito bem ao meu pequeno!
Respondeu a outra mulher:
-Lembro-me de quando era pequena. Tinha um livro ilustrado que cada dia eu mudava a história. Não sabia ler direito, mas eu gostava sempre de folheá-lo. Seu cheiro era de massinha de modelar... Parece que foi ontem que senti seu cheiro passando por mim enquanto dormia.
A outra mulher olhou diferente para a amiga e disse:
-Que maluquice essa sua! hahahaha!! Cheiro de massinha de modelar? hahahaha.
''Mal sabia ela que falava poesia.''- Escreveu o homenzinho em seu caderno.
O homenzinho começou a rir e as mulheres, percebendo o riso, olharam feio para ele.
-Por que não cuida da sua vida seu enxerido? - Falou uma das mulheres.
O homenzinho parou de rir e voltou seu olhar para a janela do ônibus.
Uma das mulheres, observando as anotações dele no caderno, disse:
-Esqueça de nós e volte ao seu papel!
-Desculpe-me se pareci desagradável... Sou um poeta preguiçoso. - Respondeu o homenzinho.
 A outra reforçou o discurso:
-Por que escreve tantas asneiras?
Respondeu o homenzinho:
-Desculpe, não sei o porquê, apenas escrevo.


                     Talbert Igor

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