sexta-feira, 10 de julho de 2015

AVE, TEMPUS (Una Viaticu)




I


Como uma invasão ou uma visita imprevista
Surge pela janela noturna uma mariposa
Debatendo-se em agonia rente a minha vista
No susto do momento, e no vibrato das cores, ela pousa.

Voa em certo espaço confuso e se depara
Com a cena de objetos reluzentes de doçura
Através do lençol das possibilidades em que ampara,
A matéria das incoerências alucinógenas de minha figura.

O corpo em reflexos trêmulos e de extremo gélido na decolagem,
E a tendência cósmica na música metálica que se estende numa Sitar
Fundem-se divinamente em simbiose de eras gerando uma passagem,
Concreta de mistérios oriundos dos milenares acordes de Ravi Shankar.


II


O tempo se escorre em passo lento
E essa gente que se afunda em areias escaldantes de ideias
Seguindo como quem tateia o vácuo ao relento
Esperando na agonia e a pronunciar uivos de alcateias.

A memória andou te traindo esses dias
Com o mesmo pássaro ciscando a mente torta
E aquele agudo de bicadas frias,
Martelando os tímpanos em batidas de porta.

Esse ruído de engrenagem a denunciar minha presença
E eu me pego regurgitando palavras para a criatura
Que sendo ave monstruosa se alimenta de desventura
Enchendo o papo de sentimento amargo e descrença.


III


Provo o sabor dessa experiência multicolor
E atinjo o ápice necessário dentro dum segundo
Para ver a íris e a marula em um momento fecundo
Que também é líquido pelas goladas frias em licor.

Essa sensação de conhecimento esotérico amiúde,
Chega derrubando as portas e espalhando o nevoeiro
Que me invade por instrumentos sonoros o corpo inteiro
Preenchendo as ambiências d´alma pelo dedilhado sútil dum alaúde.


Aquele turbilhão de flashes que já começa a se esvair
Como a pupila se contraindo em calmaria satisfatória
E eu começo a remoer as partes fragmentadas dessa trajetória
Encaixando as peças do jogo vitalício antes que possas partir.





Talbert Igor





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