terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

MARIA PRETA VELHA



Maria dos terreiros, das mandingas e estradas
Da velhice, virtuosas crendices alinhadas ao barro
Da singela vida nos tabuleiros, passadas curtas e apressadas
Entre quartas, quando eu carregava suas sacolas de feira.

Preta velha dos cajueiros e da caatinga
Maria menina, oferecia balas a Cosme e Damião
Das castanhas ensacadas, doces e trabalhosas
Sobre cantigas antigas, senhora da alegria e solidão.

Maria dos provérbios certeiros e bom tino
Das cocadas, acarajés e licores
Aprendi a gostar desde menino
Sempre só, da vida provava os sabores.

Preta velha dos temperos e mesmo lugar
Fez-se guerreira contra males cotidianos
Avisada pelos caboclos que iriam chegar
Seguiu sábia por tantos anos.

Maria, mulher, mãe, viúva de uma casa
Dos filhos que perdeu para o mundo sepulcral
Ainda sofria dor descomunal
De seus anjos arrancaram-lhe as asas.

Maria de um velho vestido azul
Lenço sobre os cabelos embranquecidos
Pés sobre sandálias de couro cru
Vaidades e cuidados que com o tempo esquecidos.

Preta velha de brincadeiras e risadas
Da fé verdadeira que tinha em Deus
Plantas, aves e flores rosadas
Sempre me dava presentes seus.

Preta Velha que se foi para o criador
Maria que todos diariamente respeitavam
Preta velha de um olhar carinhoso de amor
Maria que todos amaram.
   


                                                         
                                Talbert Igor

2 comentários:

  1. O Bom é que existem muitas 'Marias (e) Pretas (e) Velhas' para nos mostrar um lado do mundo que é esquecido diariamente...
    E essas marias pretas velhas são nossas avós, tias-avós, bisavós, tataravós e etc, etc..

    Parabéns pelo texto, talbert. De verdade, adorei.
    Beijos

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  2. O comentário de Naira é perfeitoo...
    Expressa muito bem a idéia do poema. Parabéns Talbert adorei!!

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